O que o Sporting fez no último ano e meio foi uma cura de "ressaca".
Com a eleição de Godinho, julgou-se que a forma mais fácil de atingir a felicidade, o "nirvana", isto é, ser campeão nacional (ou pelo menos, chegar à Champions), seria através da "injeção" de capital dos fundos na aquisição de substâncias fortes (leia-se, jogadores "consagrados") que permitissem, de imediato, ficar com uma moca descomunal e ir celebrar para o Marquês. Ora, o que aconteceu logo nesse primeiro ano foi, precisamente, a segunda coisa que se mais teme quando se tomam drogas: uma bad trip. A primeira é uma overdose.
Se, na primeira época, aquela viagem que passou por Bilbao e terminou no Jamor com uma derrota coincidente com a primeira vitória de sempre da Académica na final da Taça de Portugal (e com Adrien e Cédric no lado dos estudantes ainda por cima...), pareceu uma bad trip, já a segunda época do Sporting de Godinho, Duque e Freitas, foi mesmo uma overdose quase fatal. Iniciou-se a época com o ecstasy de Sá Pinto, passámos para o Xanax do Oceano e Vercauteren e terminámos com o Viagra do Jesualdo Ferreira, com um Sporting ligado à máquina e colocado num sétimo lugar da lista de espera da UEFA, condenado ao esquecimento.
Felizmente, apareceu esta nova direção e que, pelo punho de Bruno de Carvalho, cravou uma seringa carregada de adrenalina bem no meio do coração do leão e injectou a necessária força vital para que o Sporting se reerguesse e rugisse de novo.
O primeiro ano foi tão ou mais duro do que a tal reportagem do Pedro. Cortou-se metade do orçamento anual, despediu-se funcionários, jogadores e dirigentes. Pedro, durante a tal cura "de ressaca" continuou a fumar cigarros. O Sporting nem cafés bebeu na última época. Pão e água, apenas. E mesmo assim, conseguimos chegar à Liga dos Campeões.
Esta época, falta dar o passo seguinte, sair de casa e arranjar um emprego, isto é, ganhar um título. E é por isso que me faz muita confusão ler e ouvir certos Sportinguistas subscreverem e receitarem novos-velhos métodos de "cura" para este Sporting. Para esses, a cura passava por comprar dois ou três "craques" com os tais quinze milhões que o Sporting gastou esta época para comprar nove ou dez jogadores. E os ordenados? Os vícios? Quem os pagava? A mãe e o pai do Pedro que já não têm mais anéis nos dedos para vender? O clube que já não tem estádio nem terrenos para vender?
Continuando a reabilitação, candidatámos-nos a um lugar numa grande multinacional estrangeira, liderada pelo melhor executivo português do ramo. Na passada terça-feira fomos à entrevista de emprego, bem preparados, bem vestidos e muito, muito confiantes. Poderiam ocorrer duas situações:
- À medida que o tal executivo disparasse as perguntas pertinentes sobre a nossa real capacidade de corresponder às suas expectativas, entrarmos em pânico, começássemos a transpirar e bloqueássemos completamente, com a única fuga possível sendo o quarto onde iniciámos a "cura".
- À medida que o tal executivo disparasse as perguntas pertinentes sobre a nossa real capacidade de corresponder às suas expectativas, sentirmos-nos mais confiantes, começando a entrar em diálogo com o executivo, ao ponto de terminarmos a entrevista com mútuos sorrisos e cumprimentos.
Desta vez, não aconteceu nem uma nem outra. Aconteceu uma terceira hipótese, menos provável na vida de um ex-toxicodependente. O executivo deixou o seu cartão e disse: "Liga-me um dia destes."
Dia 10 de dezembro vou-te ligar, José. Conta comigo.
a primeira vitoria de sempre da académica na taça? tens a certeza disso?
ResponderEliminarvai la ver quem ganhou a primeira ediçao
@Riga Nope, não tenho. Escrevi de cor.
ResponderEliminarSe já tinha ganho anteriormente... ok, assumo o erro.
Obrigado pela correção!
SL
Capto, é por posts como estes que visito este blog diaramente na esperança de um novo texto para ler:)
ResponderEliminar(Sim, a Académica tinha antes vencido em 1938-39; é uma incorrecção que não diminui em nada o teor do post!)
SL
@M Eh lá, grande elogio! Gracias!
ResponderEliminarEpah, não tenho talento nem vontade para escrever... Isto sai quando sai, ou seja, muito raramente! :P
SL
Excelente analogia.
ResponderEliminarSL
@Anónimo Tks!
ResponderEliminarSL
Muito bom. Aparece mais vezes. SL
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