21 de agosto de 2015

Two Cars in Every Garage and Three Eyes on Every Fish

Ontem, no programa "A Quinta da Bola", apresentado pelo diretor e sub-diretor do jornal A Bola, Vítor Serpa e José Manuel Delgado respectivamente, e com os convidados Fernando Seara, Pedro Marques Lopes e José Couceiro, falou-se a certa altura do caso "João Gabriel vs Jorge Jesus/Bruno de Carvalho". E, sem exagero, os vinte minutos dedicados a esta temática foram gastos a debater e a criticar a "forma" como o presidente do Sporting resolveu defender o clube e o seu treinador, Jorge Jesus, e nunca, ou quase nunca, o "conteúdo" da temática. "BdC não deveria ter respondido a um diretor de comunicação", "BdC não resiste a um microfone", "as redes sociais estão impestadas de cretinos" (ao mesmo tempo que se gabam os 400 comentários que a notícia online d'A Bola teve na notícia João Gabriel vs JJ/Bdc), etc, etc, etc.


Por exemplo, não houve um único comentário ao timing do anúncio do processo apresentado ao Benfica contra Jorge Jesus, que, para mim, é o mais importante disto tudo. Ok, tenho quase a certeza de que se o Jorge Jesus tivesse assinado pelo Al Ahli ou pelo Paris Saint Germain, nunca o Benfica teria iniciado este processo de indemnização mas o timing é, por si só, a prova de que importa mais ao Benfica danificar o presente e futuro de Jorge Jesus (e por inerência, do Sporting) do que realmente ressarcir o passado.


Os anglo-saxónicos têm uma expressão excelente: "honor among thieves". Basicamente, quer dizer que, mesmo entre facções de criminosos em guerra, há alturas em que outros valores falam mais alto do que a mera quezília. Por exemplo, lembro-me da célebre história dos soldados ingleses e alemães terem parado de lutar num dia de natal durante a 1ª Guerra Mundial e terem trocado presentes entre si e, inclusive, terem jogado uma partida de futebol. Os jogos europeus - Liga dos Campeões e Liga Europa - são os "dias de Natal" dos clubes de futebol. Atacar um rival nessa altura é (ou deveria ser) considerado um sacrilégio. Atacar antes de um Tondela-Sporting ou de um Benfica-Estoril é normal, é "guerra". Atacar antes de um jogo europeu é um vil e sabujo ataque, digno de um Mr. Burns, como muito bem o presidente do Sporting ilustrou de uma forma digital e que deixou a restante plateia analógica à nora. É caso para dizer que, afinal, não há "honor among thieves" no futebol português. Curiosamente, os únicos casos recentes que me lembro de ataques em "dias de Natal" foram ambos protagonizados pelo Benfica: este recente ao Sporting e outro, via proxy Vitória de Guimarães, quando tentaram que o Porto ficasse impedido de disputar as provas europeias no rescaldo do caso "Apito Dourado".

Nunca esquecerei esta filha da putice do Benfica na véspera de um Sporting - CSKA. Baixo, demasiado baixo.

Há um episódio magnífico dos Simpsons onde o Mr. Burns é a personagem central. Ainda com a "voz" definitiva por encontrar (era apenas o 4º episódio da 2ª série...) mas já com o perfil idealizado, Mr. Burns vê-se numa embrulhada quando se descobre um peixe com três olhos no lago situado perto da central nuclear onde trabalha Homer Simpson. Os jornais pegam na história do peixe mutante e deixam Burns em maus lençóis. Depois de ter falhado a tentativa de corromper os fiscais que se deslocaram à central para verificar as infrações existentes, restam duas opções a Burns para resolver o problema: dispender - e muito - em reparações na central nuclear, de modo a evitar mais contaminações; ou concorrer para o lugar de Governador, para assim evitar novas leis que possam punir o seu negócio. Uma opção mais barata, no final de contas. Burns escolhe, obviamente, a 2ª opção e não olha a meios para descredibilizar a sua concorrente, a actual Governadora, Mary Bailey.




Mary Bailey = Jorge Jesus




Não consigo deixar de imaginar esta cena com o encarnado (ou encornado) Mr. Burns do Benfica, tendo ao redor da mesa figuras como: Rui Pedro Braz (o primeiro a anunciar o processo do Benfica a Jorge Jesus na passada terça-feira), Octávio Ribeiro (diretor do CM), José Manuel Delgado (sub-diretor d'A Bola), Pedro Guerra (diretor de conteúdos da Benfica TV e comentador residente no programa Prolongamento, da TVI24), Rui Gomes da Silva (vice presidente do Benfica e comentador residente n'A Bola e do programa O Dia Seguinte, da Sic Notícias), António Simões (ex-jogador do Benfica, familiar de Luís Filipe Vieira e comentador do programa Play-Off, da Sic Notícias) ou José Eduardo Moniz (vice presidente do Benfica e consultor da TVI).


Resta dizer que no final do episódio, Mr. Burns tenta engolir, literalmente, um pedaço do peixe mutante que o colocou nesta embrulhada mas não consegue... nem engolir, nem ser eleito. Mary Bailey vence.

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