Quando Jorge
Jesus, até contrariando o mito de que nunca se dá como culpado nos maus
momentos, assumiu ter “dado o guião errado” a Palhinha no jogo do Dragão e lhe
apontou os maus primeiros 30 minutos (que acho que todos vimos, tal como os
bons restantes 60), a imprensa, com o seu habitual moralismo fácil e
superficial, foi incrivelmente rápida a fazer sobressair essas palavras,
muitas vezes descontextualizado e mentido, até. Em segundos, estavam as lanças todas
apontadas. A JJ, que, de repente, em vez de ter apontado naturalmente um
momento individual do jogo, já tinha culpado, criticado e queimado o jogador;
ao Sporting, que rapidamente descobriram ter recuperado os miúdos dos
empréstimos para nada; e ao próprio Palhinha, que tornaram num coitadinho
incapaz e violentado. E essa é a maior ironia de todas: a imprensa, enquanto
criticava Jesus por aparentemente queimar o miúdo, fazia exactamente o mesmo.
Todos podiam ter desfeito logo a falsa questão, chamando à razão os que iam na
polémica e, para quem acha que JJ o criticou mesmo, o próprio treinador. Teria
sido tão fácil exaltar tudo o que de bom ele fez nos minutos que se seguiram à
primeira hora, pegar nas estatísticas que até foram (bastante) superiores às de
Danilo, reforçar que o discurso do treinador só referiu aquela meia-hora e nada
disse sobre o resto do jogo, pegar noutros casos em que JJ individualizou sem
que isso quisesse depois dizer que deixasse de acreditar no jogador em causa,
etc. Mas todos os meios de comunicação preferiram o fácil, atacando o monstro
do treinador e fazendo de vítima o indefeso do miúdo (arte em que se têm
especializado, com os jogadores do Sporting a serem os coitadinhos que recebem
pouco, que estão presos, que levam com gritos, que são chamados à atenção em
público, etc.) Alimentaram a polémica, chamando o seu nome para o tribunal da
opinião pública, com a ideia adquirida de que esteve mal, foi culpado, etc. (o
que JJ no fundo nem disse, ainda por cima). Ou seja, quem criticou JJ por prejudicar
o Palhinha acabou por fazer exactamente o mesmo.
Hoje, esses
santinhos da imprensa, que supostamente defendem sempre os oprimidos dos
adultos, conscientes, profissionais, bem pagos, que são os jovens jogadores do Sporting, não
hesitaram em atacar mais um deles, dizendo que o Francisco Geraldes foi, "contrariado" e "forçado", despromovido para a equipa B (quando, curiosamente, Rui Pedro foi só ajudar o
Porto B, para depois voltar à equipa principal). Sei que também este é um
não-assunto, até porque todos sabemos o valor do Xico. A questão aqui é o quão
exposta fica a hipocrisia dos media deste país, que fazem de Jesus uma besta
por simplesmente individualizar um jogador (que ele próprio lançou), mas todas
as semanas aproveitam todas as oportunidades que têm para fazer muito pior,
tentando queimá-los mesmo antes de começarem. Sei que já estamos fartos de
saber desta dualidade (e por vezes má intenção, mesmo) do jornalismo português,
mas é sempre bom deixá-la à vista, até porque penso que, neste tema particular
da formação, vai acentuar-se cada vez mais.
A aposta de JJ na
formação do Sporting não é só isso. É o desmoronar de uma teoria que o Benfica
e todos os seus "aliados" têm montado ao longo dos últimos anos. Se se confirmar
a sua aposta na formação no Sporting (como tudo indica, com Gelson, Semedo,
Esgaio, e agora Geraldes, Palhinha e Podence), constata-se que afinal não foi pela aversão de JJ à formação, que eles tanto têm apregoado, que o Benfica não apostou na academia ao longo destes anos. E isso reabre a
questão: então, por que motivo foi? E é essa discussão que eles querem ao
máximo evitar. Porque vai desaguar naquilo que sempre soubemos: simplesmente porque
a formação do Benfica nunca foi boa o suficiente. É por isso que estes miúdos
são tão importantes, é por isso que têm tantas lupas apontadas a si, é por isso
que todos torcem para que falhem. E é por isso que temos de ser duplamente
cuidadosos neste tema. Não ir em conversas fáceis e polémicas. Dar-lhes tempo,
sempre com a exigência e a seriedade habituais. Por um lado, até é bom. Esta
pressão toda vai funcionar como um teste: não só ficam já a perceber que
pertencer ao Sporting é ter muita gente contra nós, como ficamos nós a perceber
se têm ou não o que é preciso para nos representar, porque sinceramente, um
jogador que não aguenta ouvir o país a falar sobre uma frase que o treinador
disse sobre ele não interessa muito ao Sporting. Felizmente, até aqui, na minha
opinião, e ouvindo as suas declarações na academia depois do clássico, têm
todos passado no teste.
Link da notícia sobre Geraldes: http://www.ojogo.pt/futebol/1a-liga/sporting/noticias/interior/geraldes-forcado-a-ir-aos-bes-5670538.html
Link da notícia, no mesmo jornal, sobre Rui Pedro: http://www.ojogo.pt/futebol/1a-liga/porto/noticias/interior/rui-pedro-ajuda-o-fc-porto-b-e-volta-a-equipa-principal-5671644.html
Excelente comentário...
ResponderEliminarUma das razões pelas quais a Academia do Sporting é e sempre foi muuuuuito superior às suas rivais nacionais tem a ver precisamente com essa capacidade dos seus formandos em superar as adversidades que sentem DENTRO DO PRÓPRIO PAÍS, e DENTRO DA PRÓPRIA ORGANIZAÇÃO MAFIOSA DA FPF, ou acha que a forma como o Palhinha, o Podence, e o Chico Geraldes, foram escandalosamente ostracizados pelos selecionadores jovens AO LONGO DE ANOS E ANOS tem alguma coisa a ver com o acaso ou a coincidência?
Vejamos...
João Palhinha (21 anos) nas Selecções Nacionais: sub-16 (0 jogos e 0 minutos), sub-17 (0 jogos e 0 minutos), sub-18 (2 jogos e 155 minutos), sub-19 (14 jogos e 608 minutos), sub-20 (2 jogos e 66 minutos), sub-21 (0 jogos e 0 minutos).
Não convocado para a fase de qualificação do Europeu de sub-17 de 2012 (atrás de Tomás P., Francisco Ramos e Filipe Nascimento), suplente de Tomás P. no Europeu de sub-19 em 2014, e não convocado para o Mundial de sub-20 de 2015 (atrás de Tomás P., Estrela, e Bikel).
Daniel Podence (21 anos) nas Selecções Nacionais: sub-16 (2 jogos e 77 minutos), sub-17 (0 jogos e 0 minutos), sub-18 (5 jogos e 188 minutos), sub-19 (3 jogos e 179 minutos), sub-20 (1 jogo e 60 minutos), sub-21 (2 jogos, 153 minutos e 2 golos).
Não convocado para a fase de qualificação do Europeu de sub-17 de 2012 (atrás de Ivo Rodrigues, Romário Baldé, e Raul Nancassa), não convocado para o Europeu de sub-19 de 2014 (atrás de Gelson, Ivo Rodrigues, Romário Baldé e Jorge Intima), nem para o Mundial de sub-20 de 2015 (atrás de Gelson, Ivo Rodrigues, Gonçalo Guedes, Nuno Santos e João Vigário).
Francisco Geraldes (21 anos) nas Selecções Nacionais: sub-16 (0 jogos e 0 minutos), sub-17 (0 jogos e 0 minutos), sub-18 (3 jogos e 153 minutos), sub-19 (0 jogos e 0 minutos), sub-20 (2 jogos e 93 minutos), sub-21 (2 jogos e 79 minutos).
Não convocado para a fase de qualificação do Europeu de sub-17 de 2012 (atrás de Marcos “Rony” Lopes, Guzzo, Francisco Ramos e Filipe Nascimento), não convocado para o Europeu de sub-19 de 2014 (atrás de Marcos Lopes, Guzzo, e Francisco Ramos), nem para o Mundial de sub-20 de 2015 (atrás de Marcos Lopes, Guzzo, e Francisco Ramos).