27 de outubro de 2018

poder

Há uns tempos comecei a ler literatura sobre os reis de Portugal - eu sei, eu sei - mas houve um deles que me fez sorrir várias vezes enquanto lia sobre sobre as suas (des)venturas: D. Miguel de Bragança.

Um tipo que chega ao poder aclamado pelo povo, governa durante uns anos e sai escorraçado a pontapé e pedradas, embrenhado numa funesta luta civil, com acusações de conspirações perpetradas pela Maçonaria? Faz-vos lembrar alguém?

Sim, é verdade que se tivéssemos de fazer uma adaptação literal da história de Portugal com a história do Sporting, teríamos de colocar D. Miguel como representante dos "croquettes" mas quando leio a sua história, concluo que ele era tudo menos menos isso. Criado e educado no Brasil quase até à adolescência, D. Miguel seria hoje considerado um "rebelde", pouco interessado em cumprir com o status quo. Seja como for, D. Miguel chegou ao poder, como rei de Portugal, apoiado pelo povo, pelo clero e pela maior parte da nobreza e foi por estes três poderes, mais o poder militar, que foi derrotado e escorraçado de Portugal, rumo ao exílio.



Confesso que não li a história toda, só li até à derrota de D. Miguel, assinada em Évora e à sua partida para Itália, desde Sines. Mas isso não importa para aquilo que quero escrever, a mensagem que quero deixar. Há vários testemunhos sobre o reinado de D. Miguel que se podiam ajustar à passagem de Bruno de Carvalho no Sporting, mas aquela que me marcou mais foi esta:




"Este cortejo de imprecações [verbo intransitivo 4. Rogar pragas] acorda-lhe-iam de certo as lembranças dos gritos de 28, quando em Belém desembarcar, - o rei chegou! Então houvera vivas, agora zumbiam as pedradas e clamores de morte [...]."




Bruno de Carvalho foi completamente derrotado pelos três, quatro ou cinco "poderes" (povo, nobreza, militar, política e mediática), não me importa, neste momento, debater se justa ou injustamente. É um facto, uma realidade, não há volta a dar. O que mais me importa é o Sporting Clube de Portugal, o nome do clube que respondia em criança quando alguém me perguntava "De que clube és?", não era o nome do presidente. O poder é efémero, o clube é eterno.

Como disse, não li o livro todo mas, daquilo que li, não vislumbrei nenhuma menção ou alusão sequer a que tenha havido algum português "miguelista", i.e., apoiante de D. Miguel, que tenha mudado de nacionalidade assim que D. Miguel foi derrotado e destituído do trono. Ninguém se tornou espanhol. Nem Portugal desapareceu do mapa. Se é verdade que nunca saberemos que o que poderia ter acontecido ao nosso país caso D. Miguel se tenha mantido no trono, também é verdade que, com tantos constrangimentos a apertar a malha de governação, internos [clero, nobreza, militar] ou externos [Inglaterra, França, etc], pouco diferente seria essa governação da que nos levou até aos dias de hoje. O que quero dizer é que, do que li e do pouco que tenho conhecimento, não me recordo de ter lido alguma vez qualquer relato de portugueses apoiantes que tenham abdicado da sua nacionalidade e pedido para se tornarem cidadãos de outros país. Seguramente terá havido, juntamente com o próprio D. Miguel, alguns exilados, mas o próprio D. Miguel nunca abdicou da sua nacionalidade nem sequer do seu direito ao trono. Ainda hoje há quem reivindique o direito dos descendentes de D. Miguel ao trono português.

Com BdC ou Varandas, continuo a ser Sportinguista, não vou mudar de clube ou deixar de pagar quotas (salvo qualquer catástrofe), pois isso é contra-natura, é ilógico, é prejudicar o Sporting.

Pronto, era isto. SL


Sem comentários:

Enviar um comentário