25 de novembro de 2018

Holanda

Desde que se confirmou o nome de Marcel Keizer como novo treinador do Sporting, pensei várias vezes em Co Adriaanse, treinador holandês que passou há uns anos pelo Porto. Se bem me lembro, esteve apenas uma época no Porto, onde foi campeão, metendo em prática um futebol ultra-ofensivo. Não me recordo agora dos nomes dos jogadores, mas lembro-me que ficou célebre o 3-4-3 ofensivo que implementou na equipa. Quando a equipa do Porto tinha a posse da bola, o "trinco" recuava para o centro defensivo do terreno, os centrais "abriam", funcionando quase como defesas laterais e os próprios laterais subiam no terreno, actuando como extremos. Se não era isto, era uma coisa parecida. Típico futebol total made in Holland. Também não me recordo como foi essa época, não me lembro bem se foi naquela época (com Paulo Bento no banco) em que estivemos na luta contra o Porto até à última jornada ou se foi outra mas o essencial lembro-me: o treinador holandês desconhecido que foi campeão no Porto a jogar um futebol ofensivo e bonito. Ah, lembrei-me agora que Co Adriaanse, apesar de desconhecido da maioria dos portugueses, já tinha sido campeão pelo AZ Alkmaar, creio. E agora que acabei de escrever a frase anterior, lembrei-me: teria sido ele o treinador do Alkmaar naquela época 2004/05, quando os eliminámos na meia-final da Taça UEFA? Podia ir à Wikipedia confirmar isto tudo mas não me apetece e não é relevante para aquilo que quero transmitir.


Adriaanse, o treinador do AZ Alkmaar na célebre meia-final contra o Sporting, na Taça UEFA 2005? Não me lembro bem, mas acho que sim



Lembrei-me de Co Adriaanse porque Marcel Keizer é, tal como ele, um treinador de futebol holandês, também desconhecido para a maioria dos portugueses e, mais importante, é um treinador que também que gosta de praticar um futebol ofensivo e de posse de bola. Ora, para quem, como eu, está habituado a ver passar pelo banco de suplentes do Sporting treinadores de calibre como Carlos Carvalhal, Paulo Sérgio, Domingos Paciência ou Peseiro, ver chegar um treinador do país de Cruyff, o inspirador de Pep Guardiola, é impossível não sentir um ligeiro entusiasmo. Melhor do que um treinador holandês para o Sporting, só mesmo um português "top" (Leonardo, Mourinho, até mesmo o adjunto de Mou...) ou italiano. Treinadores espanhóis, brasileiros, franceses ou alemães seriam comidos de cebolada pelos adversários e media nacionais. Treinadores ingleses de topo, hoje em dia, não existem.

É o Keizer e é o meu treinador. É desconcertante: num dos piores períodos do clube, por todos os motivos e mais alguns, numa altura em que menos sinto o clube, eis um treinador que me entusiasma. Oxalá que corra tudo bem e que, pelo menos, consiga aguentar até final da época, de modo a poder preparar devidamente a próxima. Só peço isso.


Lembrei-me de Adriaanse por outra razão, além da questão desportiva. Se bem me lembro, Adriaanse foi campeão no Porto e, por absurdo que possa parecer, lembro-me que Adriaanse demitiu-se imediatamente do Porto nesse ano. Inclusive, foi condenado a pagar uma indemnização ao Porto (sim, fui googlar).

O momento-chave dessa época e, creio, aquilo que fez Adriaanse pensar em sair do Porto no final da época, mesmo sendo campeão, foi o que se passou em janeiro desse ano. "Quando Co Adriaanse foi atacado com very-light", lê-se numa notícia do Record de 2015, a propósito dos protestos dos adeptos do Porto aos maus resultados da equipa treinada por Paulo Fonseca.

 Mas nas notícias publicadas no ano em que o incidente aconteceu (2006), antes do surgimento das redes sociais e, mais importante, da CMTV, os cabeçalhos informavam-nos de uma "arruaça".

ar·ru·a·ça 
(a- + rua + -aça)
substantivo feminino
1. Motim nas ruas. = ASSUADA, TUMULTO
2. Grande barulho ou confusão resultante de agitação de muitas pessoas. = BARULHEIRA

Não me recordo, nunca, de ter ouvido a palavra "terrorismo" ter sido mencionada nesta ocasião nem em outras semelhantes. Não quero entrar em grandes teorias, sobre o papel da Comunicação Social ou da Justiça portuguesa no rumo das coisas, mas apenas lembrar que há diferenças na forma como umas coisas ou pessoas são percepcionadas (pelas outras pessoas). É a vida. Uma coisa é ser Pinto da Costa, com o cadastro currículo de trinta anos, outro é ser Bruno de Carvalho, um perfeito desconhecido até há cinco anos e sem qualquer título ou dinheiro no bolso. O mesmo se aplica a Keizer. Neste momento, Keizer não é ninguém aos olhos dos portugueses, principalmente aos olhos dos media e jornaleiros portugueses. Será escrutinado nestes próximos 6 meses como nunca Rui Vitória foi nestes últimos 3 anos. Abre os olhos, Sporting.


3 comentários:

  1. O Co Adrieense era o treinador do AZ Alkmaar quando jogámos contra eles na meia-final da Liga Europa (ou ainda era taça UEFA?). Lembro-me de no final do jogo ele atribuir a inesperada vitória do Sporting (bendito Miguel Garcia!!!) à Senhora de Fátima...
    Ele foi para o porto na época seguinte, portanto aquela em que despedimos o Peseiro e fomos buscar o Paulo Bento. Ainda tentámos bater-nos pelo primeiro lugar, mas perdemos com eles em Alvalade, com um golo do Jorginho...
    A tal época de que falas, que nos batemos com o porto até à última jornada, foi a seguinte, já era o Jesualdo Ferreira treinador deles.
    Sobre o teor do teu post, também estou como tu. Nesta época sinto-me pouco entusiasmado com o Sporting, mas realmente a prespectiva de jogarmos "à holandesa" deixa-me com água na boca...
    SL!

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  2. Boa tarde
    Se estiver interessado podemos fazer uma partilha de links, o seu já está no meu blog, aqui fica o meu https://sporting1967.blogspot.com/

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  3. @Billy

    Ahh, ok, acertei na parte do Alkmaar mas falhei no ano da época da luta até ao fim com o Porto. Um em dois, não está mal. ;) eheh Não sabia - ou pelo menos, se sabia, não me lembrava - dessa do Adriaanse a justicar o nosso apuramento com Fátima. Muito bom. :)

    Quanto a Keizer, bom, também é verdade que depois de Peseiro, qualquer coisa vai parecer melhor mas oxalá ele seja mesmo "the real thing". Se há coisa que precisamos nesta altura é de estabilidade e de não falharmos no alvo (ie, no treinador). Não podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar mais tiros ao lado.

    Obrigado pelo comentário! SL

    @João Paulo, vou adicionar agora o blog. SL

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