28 de abril de 2015

Prioridades

Ontem li um artigo muito interessante no site da reputada revista "World Soccer" onde o jornalista Tim Vickery, há anos radicado no Brasil e profundo conhecedor do futebol sul-americano, dá a explicar a sua teoria por detrás das mais recentes surpresas do futebol chileno e peruano. Parece que o campeonato peruano é dividido em três fases mas nesta primeira fase que culminou numa final disputada na capital, Lima, entre o favorito local (e nacional) Alianza Lima e o novato Universidad César Vallejo (clube formado em 1996!), o vencedor acabou por mesmo o Universidad César Vallejo, ganhando o jogo por 2-1, sendo o golo vencedor sido marcado por Victor Cedron, jogador formado no clube e que tinha regressado há pouco tempo, após um empréstimo frustrante ao... Alianza Lima. Adiante.







Noutro campeonato sul-americano, o chileno, o Chile Cobresal ganhou o seu primeiro título de sempre, vencendo o Torneio Clausura 2015 (nunca percebi bem isto dos "Clausura" e "Apertura"...). O Chile Cobresal ganhou o jogo decisivo contra o Barnechea, por 3-2, enquanto o rival e favorito Universidad Catolica não conseguiu ganhar o seu jogo frente ao Deportes Iquique. O outro favorito, o conhecido Colo-Colo (não confundir com a nova alcunha do Benfica, trata-se mesmo do popular clube chileno), não conseguiu disputar o título até ao final porque, diz Tim Vickery, é nesta primeira fase do campeonato (o tal Torneio Clausura) que as equipas também disputam a Copa Libertadores (a Liga dos Campeões lá do sítio) e como essa taça é muito mais prestigiante que os campeonatos locais de Perú e Chile, as equipas que nela participaram (Sporting Cristal e Colo-Colo, respectivamente) apostaram mais nesses jogos, tornando-se impossível conseguir lutar em duas frentes ao mesmo tempo. Além de os resultados terem sido desanimadores, tanto na Libertadores (foram ambos eliminados) como nos campeonatos locais, o Colo-Colo teve muitos jogadores lesionados, o que resultou numa época decepcionante.


Noutro artigo de um outro jornalista inglês, desta feita com ligações a Portugal (acho que o gajo vive ou passa muito tempo no Porto), Andy Brassell, sobre o Montpellier e o campeonato francês, achei interessante que o assunto é muito semelhante ao artigo de Tim Vickery. Não é uma peça de opinião mas sim a notícia de que, a poucas jornadas do final da La Ligue, o treinador do Montpellier, Rolland Courbis, veio publicamente dizer que seria uma "catástrofe" para o clube, caso se apurassem para a Liga Europa esta época! (Montpellier está no 7º lugar do campeonato e se o PSG vencer a Taça de França, o 6º lugar apurará uma equipa para a Europa). Courbis parece que deu a entender que o clube ainda não está preparado, estrutural e desportivamente, para enfrentar duas "batalhas" ao mesmo tempo. Entretanto, veio o presidente do clube, Louis Nicollin, dizer que só um "preguiçoso" desdenharia a possibilidade de disputar a Liga Europa, tendo Courbis contra-atacado com "Posso ser muita coisa mas preguiçoso, não. Mas, para mim, se formos disputar a Liga Europa, começarão aí as nossas preocupações. Para o ano a seguir seria muito melhor."




Cheira-me que para o ano este Rolland Courbis já não treina o Montpellier




Isto tudo fez-me lembrar a célebre "mini-polémica" durante o início desta época, quando, aparentemente, Jorge Jesus e Luís Filipe Vieira estavam de costas viradas relativamente ao papel que o Benfica deveria ter nas competições europeias: LFV, alegadamente, entendia que todos os jogos e competições são iguais na sua importância e, portanto, teriam de ser disputadas da mesma forma e com o mesmo empenho, e JJ, sem o "alegadamente", afirmou (e demonstrou depois na prática) que a prioridade era o campeonato nacional. Ora, aqui está, creio eu, um dos segredos para o título do Benfica desta época. Com uma equipa "pesada" e "velha", foi um alívio para JJ ter sido eliminado em dezembro da Liga dos Campeões e da Liga Europa. Junte-se a isso a eliminação na Taça de Portugal, mais o facto de isto ser uma "Liga Matrix" e está encontrado o caminho para o bicampeonato. Eu acho que a "polémica" entre JJ e LFV foi toda encenada. E bem, a avaliar pelos resultados.







O Benfica não pode ficar mais uma época a marcar passo na Liga dos Campeões, os adeptos não perdoarão (acho eu). Terão menos dinheiro (a crer no que se diz...) para o plantel e jogadores mais velhos um ano (Luisão, Maxi, Jonas, Lima...). O Porto também não terá Danilo, aparentemente Jackson, e mais os emprestados (Oliver, Casemiro). Se não tiver Lopetegui e outro treinador novo, não sei será bom ou mau a longo prazo mas no imediato, será bom... para o Sporting.

Temos de manter a maior parte do plantel, o treinador e assumir que a prioridade é o campeonato! Como? Fazendo como os outros fazem, metendo o presidente a dizer o banal "O Sporting joga sempre igual em todas as competições", "A prioridade é ganhar tudo", blá-blá-blá e meter na cabeça do treinador, nem que seja preciso enfiar o comprimido vermelho à força, que a prioridade é o campeonato! 2-0 fora em Wolfsburgo? É cagar para isso, mudar meia equipa (normalmente, da defesa para a frente) e poupar esforços para ir ao Dragão, por muito que depois a previsível derrota em casa frente aos alemães custe no orgulho dos adeptos e no ego do treinador.

O Sporting tem de ser campeão o mais rapidamente possível. É preciso que se entenda isto muito bem. E para podermos cagar para a Europa (e mesmo Taça de Portugal) é absolutamente imprescindível vencer a Taça de Portugal daqui um mês, de modo a termos "lastro" para sobreviver à desconsideração das competições europeias e taças nacionais na próxima época. Se tudo isto for bem feito, principalmente por Marco Silva, os sportinguistas entenderão muito bem, pois ficou provado na "crise" de dezembro que confiam e apoiam este treinador. Pelo menos, mais uma época.


2 comentários:

  1. Estou totalmente de acordo com a tua opinião, mesmo que não seja vista como politicamente correcta por parte de muitos adeptos, ontem estive no aeroporto e respirou-se Sportinguismo e vi na cara do BdC a emoção do momento, precisamos de momentos como aqueles como de pão para a boca e só as vitórias e os títulos são capazes de fazer com que isso aconteça. O segredo da classificação no campeonato da época passada passou por aí, não participámos nas competições europeias e o foco dos jogadores estava no campeonato. No final do jogo com o Wolfs senti que iríamos perder o jogo no Dragão e assim aconteceu.

    ResponderEliminar
  2. @RP Eu sei que não é politicamente correto e, muito provavelmente, nem será o que a maioria dos adeptos e mesma a direção pensam, mas é o que penso: a Liga deve/tem de ser a prioridade! E concordo, os títulos são os tijolos onde assentarão todo o projecto desta direção, sem eles... tudo será inócuo.

    SL

    ResponderEliminar