16 de fevereiro de 2018

Tiranos

"Ele podia ser bastante popular entre o povo 
e podia ter a confiança do exército 

mas para Júlio César, 
o preço da tirania seria pago em sangue, 
na casa do Senado. 

Talvez isto possa ser uma lição para os líderes modernos. 

Cuidado com aquilo que desejas - demasiado poder traz um custo associado. 

E há sempre alguém à espera na sombra. 

A versão que nós temos hoje sobre o assassinato de Júlio César 
é uma versão heróica e de sucesso da luta da liberdade contra a tirania. 

Na realidade, não foi nada assim. 

Para começar, se foi uma luta de liberdade para alguém, 
foi para uns quantos políticos privilegiados.

Os homens comuns de Roma choraram a morte de César. 

Mas também não podemos dizer que foi uma história de sucesso. 

O problema dos assassinatos é que é sempre fácil de eliminar o tipo 
mas é muito mais difícil saber o que fazer a seguir. 

Os assassinos correm sempre o risco de trazerem consigo 
exatamente aquilo contra o qual estavam a lutar. 


Neste caso, assim que o acto foi cometido, 
os conspiradores revelaram não ter nenhum plano seguinte. 

Tudo o que conseguiram foi uma guerra civil, 
que acabou por produzir o governo de um homem só, 
os imperadores, ou se quiserem, os ditadores daí em diante. 

Portanto, o assassinato de César apenas serviu 
para fortalecer exactamente aquilo que era suposto destruir. 

O resultado foi que Roma caiu sobre o poder absoluto de um homem: 
o herdeiro de César e seu sobrinho-neto, Augusto. 


A República de Roma era agora governada por um imperador"




Últimas frases de Mary Beard, historiadora inglesa e doutourada em Estudos Clássicos, no seu último documentário para a BBC "Julius Caesar Revealed".

2 comentários:

  1. Meu caro,

    Nada do que está escrito é mentira, mas falta parte da verdade. Com a morte de Crasso, desfez-se o Triunvirato que incluía Pompeu ainda. A guerra entre Pompeu e César acabou com a morte do primeiro. Em clara violação das leis da república, César marchou sobre Roma e tomou-a, tendo-se tornado ditador. À sua maneira era um populista, desprezando o Senado e tendo os seus homens de mão nas Assembleias Romanas.

    É verdade que os que o assassinaram não tinham plano b, nomeadamente tinham de assassinar Marco António para reporem a república nos seus exactos termos. Não o fizeram e acabaram mortos ou exilados, sendo o caso mais saliente o de Cícero, o verdadeiro republicano. Depois de um novo triunvirato desfeito, Otaviano, sobrinho-neto de César declarou-se Imperador e aí começou o Império Romano.

    Dito isto, César foi ditador e à sua maneira e ao seu tempo foi um populista. Colocou em causa a ordem estabelecida e o senado, os senadores e as suas famílias (proeminentes). Não foi o fim da república mas foi o princípio do fim, sobretudo quando quem o matou não tinha um plano para restaurar a república. A partir daí precipitou-se tudo até se acabar com um imperador.

    As semelhanças são muitas com o Sporting. Quem é César e o ditador? Quem são os que o pretendem assassinar? Repõem a república ou são dizimados e tudo acaba com um ditador aclamado como Imperador. Amanhã há mais.

    Um abraço

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  2. Caro Rui, primeiro deixe-me dizer que é um privilégio ter recebido um comentário seu no meu espécie de blog e logo com uma autêntica lição de história. Sou fã dos seus textos, do melhor que é possível ler no universo escrito (blogs, jornais, tudo) Sportinguista. :)

    Quando ao Júlio César, é verdade, apenas mencionei as últimas frases da historiadora no dito documentário e ocultei 90% do restante, onde ficou patente a forma como JC subiu ao poder em Roma, tornando-se, como disse, "dictator perpetuus" (o meu forte não é Latim, não sei se é assim que se escreve e não fui ao Google confirmar). O que também é verdade é que, se considerarmos Bruno de Carvalho como um "ditador" e que tomou o poder "assassinando" Godinho Lopes (o que é mentira, GL suicidou-se), também devemos reconhecer que já havia uma "dinastia" de famílias (proeminentes) na Sporting e que acabou com ela. Ah, e BdC tinha um plano seguinte. E colocou-o em marcha. Primeiro, cortes no orçamento e despesas e, assim que possível, crescimento de sócios, orçamento, equipa e modalidades. E parece-me que o plano está no caminho certo... até ver.

    Quanto ao momento actual, confesso também a minha estupefacção com tudo isto. Também ainda não percebi bem se há mesmo quem queira "assassinar" BdC, se BdC se quer "suicidar" ou outra coisa qualquer. O que me parece evidente é que não há um "plano seguinte" de quem quer que venha tomar o lugar de "imperador" do Sporting.

    Muito obrigado pelo comentário! Abraço e Saudações Leoninas

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