28 de junho de 2015

60 minutos de Silas a falar que valem mais do que 60 meses de Costinhas ou Diamantinos

Depois de ter lido num jornal brasileiro qualquer um cronista escrever sobre a fugacidade da fama dos ex-jogadores de futebol, onde dava o exemplo do Silas, ex-jogador do Sporting dos anos 80 (ou 90?), que foi abordado por alguém num aeroporto e que o confundiu com o Alexandre Frota, resolvi pesquisar o programa de tv onde ele tinha confidenciado tal "reconhecimento". E bem, o testemunho de Silas, mais na perspectiva de treinador de futebol do que jogador, é espantoso... O programa está dividido em três partes (aqui, aqui e aqui), mas a segunda parte de 16 minutos vale por 327 "Dias Seguintes", "Trios de Ataque" ou "Contra-Golpes". É um testemunho sem pudores, honesto e que nos mostra como é a realidade do futebol brasileiro de hoje em dia, um futebol onde a maior parte dos jogadores não pertencem aos clubes mas sim aos fundos e agentes e onde, por exemplo, este fim de semana se disputa um clássico Vasco da Gama - Flamengo, com ambos os clubes na zona de despromoção. A primeira vez que tal acontece.



Primeira parte:





A parte mais interessante é a segunda parte:





E a terceira parte também:



No final, o apresentador diz que nunca teve um convidado que tivesse falado tão abertamente e sem pudores no programa.

22 de junho de 2015

O garoto da Doyen

Nelio Lucas já é famoso em Itália





"Os falhanços nas contratações de Jackson e Kondogbia não agradaram à direção: será revista a contribuição do conselheiro de Mr Bee

O Milan irá mudar de estratégia, pelo menos do que diz respeito ao mercado de transferências. A desfeita de Montecarlo não passou despercebida: Silvio Berlusconi e Mr Bee estão a meditar sobre futuras mudanças na dupla Galliani-Lucas, após o duplo falhanço na contratação de Jackson Martinez (irá para o Atlético Madrid) e no derby perdido por Kondogbia.

(...) Os contratempos que surgiram na gestão da negociação da contratação de Jackson Martinez são a prova mais eloquente de como o fundo com sede em Malta se vê em âmbitos que vão muito além do raio normal de actuação que normalmente se encontram. E o mesmo Galliani que esta semana se viu obrigado a alterar o seu modus operandi para trabalhar lado-a-lado com Nelio Lucas.

A sensação clara é que os interesses da Doyen arriscam dificultar a estratégia "rossonera". O choque de poderes em Portugal com Jorge Mendes é o emblema desta dolorosa aventura. Apesar das escolhas individuais do homem de negócios lusitano [Nélio? Mendes?], é já claro que, da mesma forma que a Doyen abre algumas portas, também fecha inexoravelmente outras. Daí a necessidade de alterar o curso das cartas que estão na mesa. De certeza que não veremos futuramente em acção a estranha dupla [Galliani e Lucas]. Falta perceber se Nelio Lucas continuará a colaborar com Adriano Galliani de forma mais distante, ou se se decidirá delegar noutra pessoa as suas actuais funções. Em suma, a irá a Doyen rever a sua organização de forma a que possa ser verdadeiramente funcional a sua aliança com o Milan?"

Gazzetta dello Sport






"Mau, muito mau. Depois do quadrúplo falhanço no início do mercado (Ancelloti, Ibrahimovic, Jackson Martinez e Kondogbia), há ainda a possibilidade de alargar o mercado de verão.


Em Arcore, o espanto e desilusão misturaram-se num sábado mais negro que vermelho em Casa Milan. O presidente Berlusconi ficou perplexo mas compreendeu as atenuantes de Galliani, confidenciando aos seus colaboradores próximos que frequentam Villa S. Martino que o falhanço da operação para vestir Ibrahimovic, Jackson Martinez e Kondogbia com a camisola "rossonera" se deveu à pouca afabilidade do singular interlocutor [Nélio Lucas] envolvido do que à inexperiência do mesmo Galliani. (...) De facto, haverá ainda tempo para monetizar o empenho de Mr. Bee enquanto a estratégia do celebrado Nelio Lucas será revista e corrigida.

(...) O peso da Doyen Sport e do seu patrão Lucas será verdadeiramente avaliado por altura da Operação-Witsel, onde nada poderá absolutamente falhar."


Corriere Dello Sport





"Quase de certeza, eventuais negociações para contratar Ibra o Cavani (mas mesmo para outros jogadores), serão levadas a cabo apenas por Adriano Galliani: Berlusconi não gostou da forma como esta semana decorreu e deu ordens ao seu braço-direito para se apresentar sozinho em futuras reuniões com outros clubes."

Tuttosport





"O mercado é longo e as suas vias infinitas, mas as respostas negativas de Jackson Martinez e Kondogbia não são apenas difíceis de engolir, já criaram um terramoto no novo equilíbrio nascido no seguimento do acordo entre Silvio Berlusconi e Bee Taechaubol. Galliani recomeçará a conduzir as negociações sozinho, sem a compainha do controverso diretor geral da Doyen, Nelio Lucas, que o magnata tailandês nomeou para aconselhar a parte técnica.

Visto como terminaram as negociações com clubes (Porto, Atlético Madrid, Mónaco) e jogadores (Kongdobia) com os quais a Doyen sempre teve boas relações, pode-se pelo menos dizer com certeza que Lucas não é um valor acrescentado."

Corriere Della Sera

19 de junho de 2015

Diretor d'A BOLA não acha estranho os 15 milhões por Cancelo

Isto é delicioso. António Tadeia dá o exemplo de como o Cédric foi vendido por pouco mais de um terço do que aquilo que o Valência "pagou" por Cancelo - e diz mesmo que acha que o valor pago por Cédric é que o correcto -, e Zé Eduardo duvida que o dinheiro tenha ido parar aos cofres do Benfica. O tipo que mais deveria duvidar do negócio, o jornalista José Manuel Delgado, salta a correr para defender a honra do Benfica, qual Rui Gomes da Silva ou Pedro Guerra, dizendo que os negócios foram divulgados à CMVM e escudando-se na aferição desta.








"Jornalistas", ahahah.

10 de junho de 2015

"Uma obra-prima não nasce sem loucura"

Os ataques (des)concertados continuam. Ontem, foi a vez do Godinho Lopes - o Godinho!! ahah - atacar o presidente do Sporting com a nova narrativa do "esquizofrénico", seguindo o guião montado pelos "notáveis" como Dias da Cunha, Vasco Lourenço, Roquette e Abrantes Mendes.


Bruno de Carvalho é um louco.


Nos inícios dos anos 70, surgiu no panorama cinematográfico mundial um realizador chileno totalmente desconhecido e completamente alucinado, chamado Alejandro Jodorowsky. Alejandro não percebia nada de cinema, não nasceu no meio, não conhecia ninguém, não era um "notável" de Hollywood, e, após uns anos envolvido no teatro, resolveu realizar um par de filmes que, para a altura, eram considerados verdadeiras obras-primas ou algo que merecia ser banido.


Apesar de tanta polémica, Jodorowsky viu ser reconhecido o seu trabalho em França, onde um produtor local apostou nele e disse-lhe que o apoiaria na realização e produção do seu próximo filme, fosse qual fosse o tema. Jodorowsky escolheu realizar um filme de ficção científica, baseado no livro "Dune", de Frank Herbert. Diz ele que queria fazer de "Dune" um filme que criasse nos seus espectadores o mesmo efeito que a droga LSD produzia nos seus consumidores. eheh. Após o épico "2001 - Odisseia no Espaço", "Dune" prometia ser o maior filme de sempre de ficção científica e, mais que um filme, uma verdadeira experiência de vida. O espiritual Jodorowsky resolveu começar a procurar os seus "guerreiros", pessoas que ele sentisse que estariam verdadeiramente com ele, de corpo e alma, preparados para realizar a obra-prima de uma geração.

Contactou os melhores actores da altura e os melhores "experts" de desenho e efeitos especiais e conseguiu convencê-los a participar nessa aventura. Salvador Dali, Orsow Wells, Mick JaggerPink Floyd, Jean Giraud, aka Mœbius (um dos melhores artistas de banda-desenhada de sempre), entre outros, aceitaram o desafio de Jodorowsky. Outros ficaram de fora. Por exemplo, conta o realizador chileno que, quando se deslocou a Hollywood para se encontrar com Douglas Trumbull, o responsável pelos brilhantes efeitos especiais de "2001 - Odisseia no Espaço", de imediato sentiu que este não tinha espírito de "guerreiro" suficiente para embarcar no seu exército. Enquanto discutiam o projeto, Trumbull atendeu o telefone um par de vezes, demonstrando que não estava assim tão interessado no que Jodorowsky dizia. "Falava de si com muita vaidade", disse Jodorwosky. "Não posso trabalhar consigo", disse Jodorowky ao melhor especialista de efeitos especiais, passe a redundância, dos anos 70.



O maior filme de sempre que nunca saiu do papel.




O maior erro de Bruno de Carvalho não foi ter despedido Marco Silva. O maior erro dele foi o ter contratado por quatro anos. Marco Silva não era um "guerreiro" de Bruno de Carvalho, era simplesmente um profissional vaidoso. Leonardo Jardim, apesar de todo o seu profissionalismo, não é(ra) vaidoso. Possivelmente, não assimilava tudo o que BdC pretendia mas nunca colocou o Sporting acima dele e da sua posição de (mero) treinador.

Se Jodorowsky fosse um presidente de um clube de futebol e quisesse construir uma equipa "obra-prima", tenho a certeza de que Jorge Jesus seria uma das suas primeiras escolhas. Possivelmente, o primeiro seria Bielsa, devido às raízes (sul-)americanas de ambos mas se fosse português... Jesus seria, definitivamente, o Paul Atreides de "Dune".

É verdade que "Dune", o melhor filme de sempre jamais visto, nunca chegou a ser realizado por Jodorowsky mas isso deveu-se apenas a um "pormenor": o dinheiro. Ou a falta dele. Quando o amigo produtor francês de Jodorowsky andou a apresentar o guião e o projecto de "Dune" aos grandes estúdios de Hollywood, todos - sem excepção - torceram o nariz  e responderam negativamente porque não confiaram em Jodorowsky. Achavam-no demasiado "louco" e demasiado "ambicioso".



"Mas eu tenho ambição. Por que não ter ambição? Porquê? Tenham a maior ambição possível. Querem ser imortais? Lutem para ser imortais. Façam-no! Querem fazer a arte ou o filme mais fantásticos? Tentem! Se falharem, isso não importa. É preciso tentar."

Jodorowky, no documentário "Jodorowsky's Dune", de 2013.



Bruno de Carvalho é "louco" e ambicioso como Jodorowsky mas conseguiu - para já - aquilo que o realizador chileno não conseguiu: dinheiro para contratar o seu "guerreiro", Jorge Jesus.

Vamos ter filme.


Caricatura da equipa do Sporting vencedora da Taça de Portugal





6 de junho de 2015

Jamor = Stonehenge

O futebol é uma religião. Os adeptos são fanáticos. O futebol idealista do início do seculo XX foi completamente devorado pelo dinheiro dos magnatas do petróleo da Rússia, Emiratos e Angola. Ganha quem tem mais dinheiro. Os ideais do início do futebol foram completamente absorvidos pelo futebol capitalista, tal como os ideais pagãos foram absorvidos pela igreja católica. O dia 25 de dezembro, muito antes de ser "dia de Natal" e o dia de "nascimento de Jesus", era um dia de comemoração e devoção ao "deus-sol". Esta e muitas outras tradições pagãs foram devoradas pela igreja católica, tal como muitos clubes históricos europeus foram absorvidos (para não dizer "comprados") por dezenas de milionários e empresas orientais. Restam muitos poucos locais "pagãos" do futebol da outra era. Wembley, apesar da remodelação, é um deles. Jamor é outro.

No Jamor, respira-se o futebol pagão, o futebol idealista dos início do tempo. Uma vez por ano, lá vão em romaria, os adeptos fanáticos rumo ao local sagrado do futebol português. Ninguém percebe bem porquê esta adoração ao Jamor. Não há bancadas cobertas, não há casas de banho, não há écrans gigantes, só há futebol. E sol. O "deus-sol" (recomendo aqui a leitura do livro do Álvaro Magalhães, "História Natural do Futebol", para perceberem a ligação entre o sol e a bola de futebol). Vai-se ao Jamor porque tem de se ir. É um ritual. No Jamor, quase tudo é verídico e mítico. É como se os deuses do futebol estivessem a assistir ao jogo e decidissem quem tem de ganhar e quem tem de perder.

Jamor é o Stonehenge do futebol português.



Digam lá se não parece o jamor. :O




Não sei se se lembram, mas foi no jogo da meia final da Taça contra o Marítimo que Paulo Pereira Cristóvão, alegadamente, terá instruído alguém para depositar uma quantia em dinheiro na conta de um dos fiscais de linha da partida, o tal Cardinal. Conseguem imaginar se depois temos ganho essa Taça? A Taça "Cardinal"? A Taça "Cristóvão"? Thanks, but no thanks.

Graças a(os) deus(es), o Sporting perdeu a Taça contra a Académica, em 2012.

Outra prova que os deuses do futebol estavam no Jamor a ver esse jogo, foi não terem permitido que a equipa que tinha investido 30 milhões em 18 estrangeiros tivesse ganho contra a equipa que incluía no seu onze titular dois jovens jogadores portugueses emprestados por essa mesma equipa, Cédric Soares e Adrien Silva!

Não é por acaso que nesse dia até estava a chover...

No domingo passado, não tenho dúvidas de que os deuses do futebol marcaram presença no Jamor. Deixar que a aquela equipa que se verga perante os interesses de Benfica, Porto e Jorge Mendes, ganhasse a Taça, seria ir contra a lógica, contra o Universo. Aquele treinador sabujo, fala-barato e medíocre não merecia ganhar a Taça. Aquele presidente idiota não merecia ganhar a Taça. Metade daqueles adeptos pseudo-bracarenses-mas-que-na-realidade-são-lampiões também não mereciam ganhá-la.

Os deuses do futebol foram justos e premiaram a equipa que mais lutou para ganhá-la. A equipa que tinha Cédric Soares e Adrien Silva ganhou a Taça! Os deuses do futebol legitimaram "este" Sporting.