26 de setembro de 2014

Porta-aviões ao fundo

"Fifa is expected to make a "significant" announcement on third party ownership (TPO) on Friday, with a ban on investment companies taking a stake in the economic rights of players believed to be under consideration.

Already banned under Premier League rules, TPO is common in Europe and South America, with investors seeking to make profits on their stake.

Manchester City's £32m purchase of Eliaquim Mangala from Porto is just one of four major deals that went through in England this summer involving TPO.

English clubs who wish to buy players co-owned by an investor and a team are already required to buy out the contract rights from all parties retaining a financial interest.

BBC Sport understands Fifa discussed the issue on Thursday, the first day of its autumn executive committee meeting in Zurich, Switzerland.

Earlier this week the Fifa players' status committee - which oversees issues around transfers - is believed to have voted in favour of recommending a ban on TPO."

Mais aqui: http://www.bbc.com/sport/0/football/29373456




24 de setembro de 2014

A importância das leoas

Das poucas coisas boas que retenho do tempo do José Eduardo Bettencourt é um punhado de frases dele, aquando de uma cerimónia qualquer, relativas ao papel das mulheres sportinguistas e quão importante são elas no presente e futuro do Sporting. Dizia ele:




"O líder do clube “verde-e-branco” deixou ainda um apelo às mulheres sportinguistas. Sublinhando o seu «papel decisivo na orientação da vida das crianças», Bettencourt disse que «quando alguma sportinguista tiver a infelicidade de casar com um benfiquista, tem o dever de fazer com que o filho continue a ser sportinguista».

«Este trabalho de sapa nas famílias é fundamental», sublinhou." in A Bola."





Apesar de o dom da eloquência não ter abençoado JEB, percebi bem o que ele quis dizer. Há anos que o penso. Há muitas mulheres sportinguistas, muitas mesmo, talvez mais do que homens, pelo menos percentualmente em relação a lampiãs/tripeiras. É um bem nosso que temos de saber preservar e fazer prosperar. Sinceramente, até creio que se pode fazer muito mais (por exemplo, cadê o futebol feminino no Sporting?) mas esse é outro assunto.

O que quero realçar são estes dois exemplos práticos do quão importante é não menosprezar a importância das mulheres no futebol em geral e no Sporting em particular. A importância das leoas:




D. Dolores Aveiro, mãe do Cristiano Ronaldo.





D. Lídia Costa, mãe do João Mário e do Wilson Eduardo




23 de setembro de 2014

Tiro no porta-aviões (da Doyen)

Coincidência ou não, duas semanas depois da presença de Bruno de Carvalho na Soccerex, em Manchester, vários jornais europeus conceituados lançaram grandes reportagens sobre aquilo que nós, portugueses e principalmente, os sportinguistas, já conhecemos de cor e salteado: o poder (desregulado e desmedido) que os fundos têm nos negócios do futebol, a influência de Jorge Mendes, as estranhas compras-vendas-compras de Mangala e Brahimi e, claro, a luta que Bruno de Carvalho encetou contra este poder, com o infame imbróglio Sporting/Rojo/Doyen.

Depois de há dois dias, o The Guardian ter publicado uma grande reportagem intitulada "Jorge Mendes: the most powerful man in football?", hoje foi a vez da notabilíssima France Football trazer-nos uma grande reportagem chamada "TPO (Third-Party Ownership) - O novo dopping das transferências" e da ExtraTime (revista semanal da italiana Gazzetta dello Sport) escrever outra "Reportagem - a nova forma de investimento - Ao fundo com os Fundos". 

"Bruno de Carvalho, le Don Quichotte du football portugais"

Tudo o que lá vem - os negócios entre clubes portugueses e fundos, Jorge Mendes, etc, etc - já é por nós sobejamente conhecido, porém, ambas as reportagens contêm alguns pormenores curiosos como aos nomes dos milionários investidores na Doyen e claro, duas entrevistas ao presidente do Sporting, Bruno de Carvalho. Ainda não li tudo pormenorizadamente mas é provável que contenham mais material inédito. A entrevista da France Football foi efectuada durante a Soccerex e da ExtraTime é uma entrevista exclusiva para a revista italiana, realizada por um jornalista português, André Viana. Realçar também uma entrevista ao presidente da SAD do Estoril e diretor da Traffic, o brasileiro Thiago Ribeiro.

P.S. Parece que esta jornada de reportagens sobre a TPO e os fundos culminou com esta outra do The Guardian que inclui declarações fortes de um porta-voz da UEFA contra a forma como os fundos de investimento estão a proliferar, desreguladamente, por essa Europa fora e prometendo medidas para a combater.








P'ra quem quiser sacar os pdf's completos de ambas as revistas, aqui têm:

- France Football
- ExtraTime


20 de setembro de 2014

Entrevista ao Miguel Prates

Caros sete leitores do blog, é com muito prazer que vos apresento uma entrevista exclusiva com o melhor narrador de futebol português, Miguel Prates! Ou, pelo menos, o meu narrador de jogos de futebol favorito. E porque é que é o meu narrador de futebol favorito? Simples. Além da forma clara e esclarecedora como consegue nos fazer perceber aquilo que estamos a ver, é alguém que, mesmo após estes anos todos a ouvi-lo a narrar jogos, nunca consegui “descobrir” de que clube é ele simpatizante! 

Se, numa semana, fico com ideia que o Miguel é adepto do clube X, quando o ouço na semana seguinte a narrar outro jogo, mudo de opinião e julgo que, afinal, torce pelo clube Y! E tem sido assim desde sempre. Ao contrário de quase todos os outros, acerca dos quais já cheguei a uma conclusão, seja ela correcta ou errada, sobre o clube com que simpatizam, no caso do Miguel Prates, até hoje, ainda não consegui chegar a conclusão nenhuma! Acho que é o maior elogio que posso fazer a um narrador de jogos de futebol, especialmente em Portugal.

É verdade, já há algum tempo tinha pensado em perguntar ao Miguel Prates se aceitaria responder a algumas perguntinhas sobre a sua profissão e sobre futebol em geral e esta semana decidi-me e perguntei. Confirmando a boa imagem que tinha dele, o Miguel Prates aceitou (quase de pronto)! 

Agradeço a disponibilidade ao grande Miguel Prates em perder tempo com esta patetice. Queria fazer perguntas inteligentes e com piada mas, infelizmente, saíram estas:



Com quem é que joga o Sporting: Apesar de ter memória do Miguel Prates na RTP, só me lembro verdadeiramente de si e da sua voz já na Sporttv. Para quem não o conhece bem, podia-nos contar o seu trajecto profissional e da forma como surgiu a narração de futebol na sua vida? É uma paixão de criança ou foi algo que surgiu por acaso?
Miguel Prates: O desporto e principalmente o futebol são uma paixão de criança até porque pratiquei federado 5 anos no Estrela da Amadora. A narração foi uma consequência da entrada para o desporto na RTP. Não foi fácil porque existiam grandes nomes mas acreditaram em mim e aconteceu.

CQJS: Sendo jornalista, qual a vertente da sua profissão que mais gosta de praticar: a entrevista, opinião, comentário, reportagem ou é mesmo a narração?
MP: Narração, reportagem e entrevista.

CQJS: Quais foram as suas inspirações para a narração de jogos, se é que teve algumas? 
MP: A minha inspiração é apenas o gosto pelo jogo.

CQJS: Não sente que houve muitas mudanças no jargão utilizado pelos treinadores da nova “geração” e que foram sendo importadas pelos narradores e comentadores de futebol, tornando-o mais “técnico” e mais “táctico”? Isso beneficiou ou prejudicou a relação dos adeptos/telespectadores com o jogo, na sua opinião? 
MP: A utilização de expressões técnicas não pode de maneira nenhuma selecionar os telespectadores. É para eles que trabalhamos e eles devem perceber tudo o que dizemos . Sou partidário de uma linguagem mais simples e entendível .

CQJS: Acompanha o que vai sendo dito nas redes sociais? Pondera alguma vez ter conta no Twitter, por exemplo?
MP: Não acompanho muito. Twitter, não.

CQJS: Ainda em relação à pergunta acima, costuma ler blogs “desportivos” ou outro tipo de sites que não os dos três jornais desportivos?
MP: Blogues, não muito por simples opção. Outros sites, sim, nomeadamente estrangeiros .

CQJS: Qual aquele jogo que jamais se esquecerá de ter narrado?
 MP: FC Porto-Bayern '87, Leverkusen 4-4 Benfica, Nápoles de Maradona-Sporting e Portugal-Irlanda.

CQJS: A maior gaffe que deu em direto?
MP: Gaffes, houve de certeza mas agora não me lembro de... nenhuma.

CQJS: Lembra-se se, durante a narração de um jogo, alguma vez se tenha “descaído” e desvendado a sua cor clubística inadvertidamente, por exemplo, quando comemorou um golo de uma forma mais “apaixonada” ou algo parecido?
MP: Não narro sempre de forma apaixonada, por isso dizem sempre que sou dos clubes que marcam golos.

CQJS: Maradona ou Messi?
MP: Maradona.

CQJS: Mourinho ou Guardiola?
MP: Mourinho.

CQJS: Os nomes de três jogadores que mais gostou de ver nos relvados portugueses nos últimos 30 anos?
MP: Futre, Falcão, Jardel.

CQJS: Acredita que algum dia o futebol português deixará de viver neste estado de “guerrilha” permanente em que estão envolvidos Benfica, Sporting e Porto?
MP: Não me parece. Difícil quando 90 por cento dos conteúdos dos programas desportivos versam o tema arbitragem.

CQJS: Como se diz: Pirlo ou Pilro?
MP: Pirlo.

CQJS: Como é que se ganha motivação para narrar um Cesena – Sassuolo, às duas da tarde de um domingo de agosto? 
MP: Fácil. Bola a rolar e entusiasmo na narração, não perdendo nunca a máxima que se tem de fazer bem, quer seja para um ou para um milhão.

CQJS: Qual a sua opinião sobre os canais de clubes? Vê-os como uma inevitabilidade, um sinal dos tempos, ou como algo positivo e com espaço de evolução? Seria capaz de trabalhar num?
MP: Canais de clubes, para mim não tem retrocesso. Entras num e não podes voltar aos generalistas .

CQJS: Gosta de ver jogos de futebol além daqueles que narra ou quando sai do trabalho e chega a casa, nem quer saber mais de bola?
MP: Há sempre tempo para ver um bom jogo mas geralmente prefiro um bom... jantar.

CQJS: A Sporttv “contratou”, e muito bem, diria eu, a treinadora de futebol, Helena Costa, para a sua equipa de comentadores de jogos de futebol. Crê que o futuro do futebol passa também pelas mulheres, seja como jornalistas, treinadores, jogadoras, adeptas ou mesmo dirigentes? Por exemplo, consegue imaginar uma mulher tornar-se presidente de um dos três grandes clubes num futuro próximo?
MP: A questão não é o sexo, é a qualidade e a competência.


Não posso deixar passar esta oportunidade para fazer algumas questões sobre os nossos principais clubes.


CQJS: Terá Lopetegui capacidade para criar uma forte equipa com o plantel que tem à disposição?
MP: Acho que já está a formar.

CQJS: O Benfica continua a ser o mais sério candidato ao título?
MP: Neste momento é difícil lançar dados com muita certeza... as equipas ainda estão em formação.

CQJS: Este Sporting de Marco Silva tem mais espaço para crescer ou nem por isso?
MP: O Sporting de Marco Silva tem margem de crescimento mas não com o cutelo do título por cima do pescoço.


CQJS: Nunca mais me esqueci de uma frase sua, no fim do jogo Itália 1-1 (5-3, a.g.p.) França, final do Mundial 2006, quando o Fabio Grosso marca o penalty vitorioso, a câmara foca o banco italiano e vemos o Marcello Lippi, de manga curta, levantando-se do banco efusivamente sem antes pegar no casaco, ao mesmo tempo que o Miguel dizia “Marcello Lippi, campeão do Mundo mas não se esquece do casaco”. Ahahah Genial! Lembra-se disso? 
MP: Não me lembro mas obrigado pela recordação. É sempre interessante recordar momentos divertidos porque a narração também é divertimento.


CQJS: Finalmente, a última pergunta: qual o seu clube… estrangeiro favorito??
MP: Os meus dois clubes estrangeiros são o Manchester United e o Real Madrid.


Pronto, já acabou! 

Volto a agradecer a gentileza em ter perdido um pouco do seu tempo em responder a umas perguntas de um blog qualquer que ninguém conhece, excepto os sete leitores habituais que têm o blog nos favoritos. É, de facto, incrível. (tanto o blog ter tantos leitores como o Miguel ter aceitado responder a algumas perguntas!)

Muitas felicidades para a sua carreira e espero que esteja p’ra breve o dia em que tenha o prazer de o ouvir dizer “Acabou o jogo! Portugal é o novo campeão europeu!” :)

MP: Espero que Portugal seja o próximo campeão europeu. Difícil, difícil...

14 de setembro de 2014

Continuidade

Depois do jogo acabar, invadem-nos trezentos mil pensamentos: não jogámos um caralho, o Belenenses só (não) joga assim connosco, João Mário no lugar no André Martins, já!, os reforços... quais reforços?!. o treinador é uma merda, assim não vamos lá, o Porto/Benfica vai ser (outra vez) campeão, venha o Peseiro!

É verdade, eu pensei tudo aquilo que escrevi acima. Mas hoje lembrei-me do que o speaker do Sporting disse depois do jogo ter acabado, quando nos avisou que tínhamos ganho hoje (ontem) ao Benfica em andebol. Ok, soou um pouco a um "Vá, ao menos ganhámos algo", mas acredito que mesmo que tivéssemos ganho ao Belenenses, o speaker teria nos avisado na mesma de tal vitória.

Mas voltando ao futebol. O futebol, seja Bruno de Carvalho, Inácio e mesmo o Marco Silva, só tem é de pôr os olhos no andebol e, principalmente, no futsal do Sporting. Além do futebol, são as outras únicas modalidades, verdadeiramente profissionais do clube. E que é que verificamos? Que, apesar de ambas não terem um sítio próprio para treinar e jogar regularmente, de terem um orçamento inferior a Benfica e Porto, conseguem, ano após ano, a dar luta aos dois e de, inclusive, ganhar títulos (Taças, no caso do andebol, campeonatos e Taças, no caso do futsal)!

Qual o segredo? Para mim, na minha humilde opinião, o "segredo" chama-se: continuidade.


Parece que há uma "Lei da Continuidade" qualquer em Psicologia.


Priberam é o meu melhor amigo quando estou a escrever posts aqui no blog. Ora bem, "continuidade" significa:

(latim continuitas, -atis)
substantivo feminino
1. Qualidade do que é contínuo.
2. Extensão ou duração contínua.


Sem dinheiro, e sem perspectivas futuras de virmos a descobrir poços de petróleo em Alvalade ou de que um fundo (sem fundo) queira novamente investir no clube, a única hipótese de sucesso desportivo no futebol, chama-se "continuidade". Creio que tanto BdC e Inácio têm isso em mente, na medida em que, nesta época, apenas saíram dois jogadores daqueles que podemos considerar como sendo do "núcleo duro", Rojo e Dier.

É verdade que ficámos algo debilitados no centro da defesa mas, sinceramente, não vejo muitas diferenças no Naby Sarr e no Rojo da primeira e segunda época no Sporting. Temo mais Maurício do que Sarr. Pode ser que Oliveira cresça mais um pouco e comece a lutar pelo lugar.

Continuando, e p'ra acabar, espero que, qualquer que seja o resultado final desta época, haja continuidade. Lembro-me de épocas, tanto no andebol como no futsal do Sporting, em que não ganhámos nada e a base da equipa/plantel continuou, exceptuando a questão do treinador.

Hoje, está à vista de todos que foi esse o "segredo" do sucesso.


Novo episódio

Da série "Coisas que só vemos em Alvalade", depois da peitaça de um árbitro a um treinador do Sporting, eis o "Empurrão de um árbitro a um jogador do Sporting".



(e não, não por isto que perdemos o jogo)

9 de setembro de 2014

O "sistema" v2.0

A propósito disto que escrevi aqui no início do ano, deixo uma frase elucidativa que o (ainda) presidente da Liga, Mário Figueiredo, disse ontem, durante a entrevista que deu na RTP Informação:


"O Benfica, como clube maior em termos de exposição e adeptos em Portugal, no meu entender, não devia tentar seguir o exemplo daquilo que tem sido o domínio feito pelo FC Porto. E devia tentar, digamos, criar um sistema em Portugal em que o futebol fosse mais transparente e mais claro. Eu refiro me concretamente a uma questão muito simples: a questão da arbitragem."

8 de setembro de 2014

Der Untergang

Tinha de falar sobre a Seleção. Tinha.


Oferecem-me uma gamebox, de borla, para ver os jogos do Sporting desta época mas com uma condicionante: o meu lugar é ao lado do de Rui Oliveira e Costa. Conseguem imaginar? Uma época inteira a ver os jogos do Sporting ao lado de ROC? Pronto, é assim que eu vejo os jogos de Portugal com o Paulo Bento no banco. Uma tortura de noventa minutos, à espera da cenoura. Por um lado, quero comer a cenoura (que Portugal ganhe), por outro, sei que quanto menos cenouras comer, mais probabilidades há de a tortura acabar (Paulo Bento ser despedido). Mais ou menos o que senti quando via os jogos do Sporting nos últimos meses de Paulo Bento como treinador.

Eu, e larga maioria dos Sportinguistas, conhecemos bem Paulo Bento. À excepção de alguns intelectuais (jornalistas-mor do Record, Rui Oliveira e Costa, António Tadeia, etc), todos sabemos que aquela época dos segundos lugares do Paulo Bento foi uma miragem, uma ilusão. A partir do momento em que se foi buscar o treinador dos júniores, sem qualquer tipo de experiência, para ser o novo treinador principal do Sporting, estava dado o mote para que a mediocridade imperasse no Sporting. Um treinador sem currículo, sem "poder", forte para o exterior (jornalistas, árbitros, etc) e sem voz nas contratações e vendas de jogadores. Foi por isso que escolheram Paulo Bento, tanto no Sporting como na Seleção.

Confesso que eu fui um dos iludidos. Na altura em que ele saiu, também achava que devíamos estar agradecidos ao Paulo Bento por ter treinado o Sporting mas hoje não tenho dúvidas que é Paulo Bento quem tem de ficar eternamente agradecido por ter tido a oportunidade de treinar o Sporting Clube de Portugal. Depois daquele miserável jogo de ontem, duvido seriamente que volte a treinar outro clube grande em Portugal.

Outro mito dos "intelectuais" é que Paulo Bento é um homem frontal, honesto, sem medo de dizer as verdades e de assumir as suas responsabilidades. Pois bem, um homem com H grande teria-se demitido no dia a seguir àquela vergonha de Munique. Mas Bento, um homem pequenino, aceitou continuar a servir de capacho a José Eduardo Bettencourt por mais uma época e, pior, aceitou iniciá-la, disputando uma pré-eliminatória da Champions, sem exigir reforços, confiando na palavra do presidente que depois de eliminarmos a Fiorentina e assegurando a entrada na fase de grupos, esses reforços chegariam. Pois.

A forma como Paulo Bento convocou jogadores com "alto índice de suspeição lesional", contrariando a opinião da equipa médica e chegando até a utilizá-la para camuflar a saída (mais uma...) de um jogador da Seleção, Danny, e depois como deixa essa mesma equipa médica ser "queimada" em público pela direção da FPF, funcionando como bode expiatório do desastre que foi a campanha de Portugal no Brasil, é a demonstração cabal de que Paulo Bento, ao contrário da opinião generalizada pelos intelectuais, é um homem como outro qualquer, ou seja, alguém que, na hora da verdade, come e cala quando está em risco o "dele", isto é, a honra e sentido de justiça valem menos que os euros ao final do mês.


Tal como no Sporting, quando foi manipulado por Soares Franco e Bettencourt, numa lógica de psicologia invertida, Paulo Bento crê mesmo que é que ele decide quem joga na Seleção. E é aqui que entra o maior cancro do futebol português.


O maior cancro do futebol português


Jorge Mendes, outrora um zé-ninguém, é o actual dono disto tudo, no que diz respeito ao futebol português. Num campeonato "normal", o Braga seria o clube que apostaria mais nos putos da formação, afinal são os actuais campeões de júniores, não disputam competições europeias esta época e têm um orçamento mais reduzido que os três grandes. E o que é que vemos? O Braga a servir de barriga de aluguer dos craques sul-americanos "inseminados" por Jorge Mendes, à espera de virem a ser adoptados mais tarde por um outro clube qualquer com mais dinheiro (normalmente, Porto, Benfica e agora também o Mónaco). O Rio Ave, idem (isto é absurdo). O Porto igual. E quando não é para colocar jogadores, Jorge Mendes, qual herói, também surge no meio do nada, e com o seu toque de Midas, consegue transformar jogadores medianos em jogadores-maravilha que valem 15 milhões de euros e que estão prontos a jogador na seleção assim, num estalar de dedos.

Há já muito tempo que divido o mercado de transferências e consequente valor intrínseco dos jogadores em dois: o real e o artificial. Por exemplo, as célebres transferências do Roberto, Hulk, Witsel ou André Gomes, para mim, são artificiais. Seja por lavagem de dinheiro, por favores, pagamento de dívidas, o que for, não consigo acreditar que tais valores correspondam ao valor intrínseco dos jogadores. E é curioso verificar que são sempre os mesmos clubes envolvidos nestas mega-transferências: Porto, Benfica, At. de Madrid, Zenit, Chelsea. Por uns tempos, o Sporting também se intrometeu nesses negócios, com JEB e Godinho Lopes, a contratarem, respectivamente, Pongolle e Elias por 6 e 8 milhões de euros, certamente a conselho de alguém...


Transferências reais são as que não envolvem esses ditos clubes nem esses agentes. Felizmente, ainda são a grande maioria.

Paulo Bento, até porque também é agenciado por ele(!), está tão envolvido nesta teia de interesses que não é necessário o Jorge Mendes soprar-lhe ao ouvido para convocar X ou Y, pois ele acabará por o fazer naturalmente e pior, achando que o está a fazer por livre e exclusiva vontade sua. Uma ilusão. Só isso explica as escolhas de Paulo Bento quando coloca a jogar o André Gomes, que tem meia dúzia de jogos na equipa principal do Benfica, em detrimento do Adrien ou quando insiste em Ivan Cavaleiro, entretanto colocado no "congelador" de Jorge Mendes, o Deportivo da Coruña, quando entra pelos olhos dentro de quase toda a gente que o Mané é muito mais jogador que o puto formado no Seixal. Se dantes julgava que o problema do Paulo Bento era apenas teimosia e mediocridade, agora já penso que se trata de algo mais grave. O estado de negação de Paulo Bento, antes e depois do jogo de ontem, fizeram-me lembrar o filme "Der Untergang" (A Queda), onde Hitler viveu os seus últimos dias num perfeito estado de alienação, contra tudo e contra todos.


O Marinho Neves explica isto melhor e também sugiro que leiam o texto do jornalista Ricardo Costa (agora toda a gente escreve sobre futebol), do Expresso:

"E Jorge Mendes prolonga artificialmente a carreira de jogadores que já não estão capazes de ir à seleção, ao mesmo tempo que sobrevaloriza outros em clubes que lhe são demasiado próximos, em que o Valência é agora o caso mais exemplar."



Uma nota para a minha satisfação por ver o Sporting livre deste cancro chamado Jorge Mendes. É certo que continuamos a fazer negócios com outros agentes, empresários e fundos, mas ao menos agora somos nós que inalamos o fumo directamente e deixámos de o inalar passivamente.



3 de setembro de 2014

Ovo de Colombo

"O verdadeiro projecto do Sporting é e deve ser o da formação. (...) Sería preferivel trazer apenas dois ou três que fizessem efectivamente a diferença e que viessem acrescentar experiência, maturidade, manha, qualidade ao plantel e aos jovens oriundos da Academia (...) Além do mais, estes jodadores de 2ª (3ª) linha atrás mencionados só servem de tampão e entopem a montra para os jonvens (sic) se poderem afirmar.
Os sócios sentiriam muito mais compreensão e paciência com Adrien, po exemplo, do que sentem com *******. Não tenham duvidas disso."


Sabem quando foram escritas as palavras acima mencionadas? Não, não foi hoje, num dos 327 grupos "de apoio ao Sporting" no Facebook... Foi escrito, num comentário a um post do blog Leão da Estrela, no dia 18 de outubro de... 2007! Mas podia muito bem ter sido escrito hoje, não podia? :)

Ah, o eterno debate da formação!.. O ovo de Colombo de qualquer mesa de café preenchida por Sportinguistas.

"Formação ou estrangeiros, eis a questão!"

Não quero um onze com dez jogadores da formação nem quero um onze com um jogador da formação. Quero equilíbrio, sensatez, bom senso, competência e qualidade acima de tudo. E creio que isso foi ou está perto de ser alcançado "neste" Sporting. No derby da Luz de domingo, por exemplo, estiveram sete jogadores da formação do Sporting em campo. O Esgaio já tem mais minutos do estádio da Luz do que o Cavaleiro, Cancelo e Bernardo Silva juntos. (não sei se tem ou não, não fui pesquisar, mas vocês percebem o que quis dizer... :P). E o João Mário é uma alternativa (cada vez mais) real ao André Martins.

Dois putos por época parece-me bem ou não?

Podia agora mencionar a época inicial de Godinho Lopes, quando foram contratados uns 327 jogadores estrangeiros, e lembrar a euforia que se vivia no início da época, mormente naquele célebre jogo de apresentação com o Valência, com um estádio apinhado de Sportinguistas "ilusionados" (da "ilusión" espanhola, não queria escrever "iludidos" da "ilusão" portuguesa...) e que - eu, pelo menos, não me lembro - onde não se ouviu qualquer lamento ou preocupação relacionado com a falta de aposta na formação do Sporting. E acrescento: eu fui um dos que não se lamentou.

Não quero uma Sporting à "Soares Franco" (só com putos da formação) nem quero um Sporting à "Godinho Lopes" (só com estrangeiros). Quero equilíbrio e sensatez.

Se não o escrevi aqui, pelo menos já o pensei: compreendo a estratégia por detrás da política envolvida na "formação" deste plantel. Não sei ainda dizer se concordo ou não, mas compreendo.

Havia duas opções: comprar dois ou três jogadores com "credenciais" e estatuto, e que fossem, realmente, "reforços" para o onze inicial. Ou seja, dois ou três jogadores "caros", p'raí uns cinco milhões de euros cada um. E além do valor da contratação em si mesma, teríamos de acrescentar o valor do salário de cada um...

A outra opção, que foi a escolhida pela direção do Sporting, era contratar jogadores para reforçar o plantel e não propriamente a equipa inicial. Com esses quinze milhões que custariam dois ou três "craques", optou-se antes em rechear o plantel com opções válidas para todas as posições em campo.



Admito: creio que faltou apenas contratar um central mais experiente.


Com a série de jogos que aí vêm - Taça da Liga, Taça de Portugal e Liga dos Campeões - compreendo, repito, que se tenha optado por esta via em vez da outra, quiçá mais apelativa, de se contratar dois ou três "craques". Contudo, correríamos, mais uma vez, o risco de, num qualquer jogo decisivo, como foi o derby da época passada na Luz, ficarmos sem um jogador de uma posição essencial e não termos uma alternativa à altura. Assim, poderemos perder na mesma o jogo, mas não será por falha(s) básica(s) nossa(s).

É claro que as sentenças de morte já foram feitas a esta política desportiva do Sporting e mesmo às ambições do clube. Ainda ontem, o expedito Carlos Daniel, na RTP mais-Porto-que-o-próprio-Porto-Canal Informação, dizia que só através de um "milagre" é que o Marco Silva conseguiria ser campeão neste Sporting. E em todos os programas desportivos, colunas de opinião de jornais ou posts de blogs, a opinião é geral:

Só o Porto se reforçou "bem", o Benfica reforçou-se "assim-assim" e o Sporting, excepto Nani, reforçou-se "mal". Ia jurar que ouvi uma coisa parecida na época passada.