No ano passado, pouco depois de termos ganho 0-3 na Luz, o treinador do Benfica viu que não era possível continuar colocar a jogar a equipa da mesma forma (aberta, ofensiva, até mesmo ingénua) como ela jogava com JJ. Não acompanhei suficientemente bem os jogos dos lampiões nem sou treinador de futebol para poder explicar o que realmente mudou, mas foi visível que o Benfica começou a jogar de outra forma a partir desse derrota: mais cautelosa, mais organizada, mais solidária. O jogo em Alvalade, na 2ª volta do campeonato, foi o exemplo-mor dessa mudança. E ganharam o jogo. E o campeonato.
Uma equipa "top" pode dar-se ao luxo de ter um jogador que não defenda, que não faça "pressão" após perda da bola. O Real Madrid tem o Ronaldo, o Barcelona tem o Messi, o Benfica tem Mitroglou, etc... Já o Sporting tem uns 3 ou 4. Impossível. Assim que a equipa do Sporting perde a bola no meio campo adversário, não há aquela pressão imediata que todas as equipas "top" fazem neste momento contemporâneo do futebol europeu, seja para recuperá-la e iniciar nova vaga de ataque, apanhado o adversário em contra-pé (muitos dos golos são marcados desta forma) ou para, simplesmente, evitar o contra-ataque adversário. Os jogos do Rio Ave, Vitória, Dortmund e até do Tondela expuseram esta falha até ao tutano.
JJ continua a usar nesta época o mesmo modelo, táctica, estratégia, wtv, que utilizava no ano passado, isto apesar de ter perdido João Mário, Slimani e Teo Gutiérrez. E agora, Adrien. O problema é que Bas Dost não defende, Markovic também não, Gelson defende mal, Bryan Ruiz faz o que pode e Elias defende com os olhos. E Alan Ruiz, enquanto jogou, também pouco defendia, tal como André. Um gajo vê as duplas de laterais de Benfica e Porto, com Maxi/Layun-Alex Telles e Semedo-Grimaldo, e depois compara com a dupla do Sporting, Schelotto-Zeegelaar, e dá vontade de chorar. É um suicídio continuar a jogar da mesma forma.
Não podemos continuar a assentar o nosso sistema de jogo na "qualidade" (posse de bola, jogo controlado, etc) neste campeonato de merda e fazer 2 remates à baliza adversária em 70 minutos e depois sofrer golos sempre que um jogador adversário remata à baliza (sobre este aspecto, o da baliza, se algum dia desse a minha opinião completa sobre Rui Patrício, chamar-me-iam lampião e seria excomungado pelos Sportinguistas. Se alguém já leu o livro "The Outsider: A History of the Goalkeeper", de Jonathan Wilson, sabe a diferença que há entre um guarda-redes "activo" e "passivo"... e em qual das categorias eu encaixaria RP). A "qualidade" de jogo apenas funciona, paradoxalmente contra equipas que têm, precisamente, mais qualidade e que dão mais espaço, tanto a defender como a atacar. É por isso que ganhámos a maior parte dos jogos "grandes" a época passada, e porque, já esta época, ganhámos ao Porto e apenas não ganhamos em Madrid por um triz. No entanto, continuamos a falhar contra o Tondela, o Rio Ave, o União da Madeira, Boavista, etc... Aqui, neste campeonato de merda feito de "autocarros" e guarda-redes feitos de cristal e que se lesionam de dez em dez minutos, o que interessa é a "quantidade" de ataques. Correr, correr, correr, fazer faltas, faltas, faltas, rematar, rematar, rematar. É assim que o vertiginoso Benfica joga. É embaraçante ver a quantidade de jogadores do Benfica que sabem rematar à baliza (Pizzi, Grimaldo, André Horta, Gonçalo Guedes, Cervi, Mitroglou), contrastando com os poucos do Sporting que o sabem fazer (Bruno César, Alan Ruiz e...) ou que sequer tentam fazer. É que, ao final de contas, o que interessa é meter a bola dentro da baliza e, para isso, é preciso saber rematar a puta da bola.
Num dos últimos textos do acima mencionado Jonathan Wilson no The Guardian, mencionou novamente uma célebre frase atribuída ao antigo e infame treinador do Benfica, Bélla Gutman. Era um artigo sobre Mourinho e Klopp, e que girava à volta da "aura" da qual os treinadores vivem e se alimentam. Quem lê o Jonathan Wilson há algum tempo, já sabe que, para ele, o fenómeno Mourinho já se esgotou ou está prestes a esgotar-se. A tal frase do treinador húngaro é esta: "Um técnico é como um domador de leões. Ele domina o animal enquanto tem autoconfiança e não demonstra medo. Mas quando a primeira sombra do medo aparece nos seus olhos, ele está perdido".
Quem doma quem? |
A ideia que dá é que JJ parece estar a ficar com medo. Um JJ sem medo já teria resolvido o problema do substituto de Adrien, desenrascando um "Manel" qualquer, em vez de ter apostado (e perdido) três vezes seguidas no Elias.
Ou JJ faz um milagre e coloca os jogadores do Sporting a correrem que nem cães, tal como fez quando chegou ao Benfica ou como acontece, inevitavelmente, nos minutos finais dos jogos que estamos empatados ou a perder, ou então tem de mudar de estratégia e meter a equipa a jogar mais em modo "contra-ataque", mais compacta.
JJ tem de voltar a ter coragem de gritar e "mandar para o caralho"os jogadores todos e não gritar apenas ao Jefferson ou ao Zeegelaar.
E além de JJ, alguém do Sporting tem de gritar aos ouvidos dos jogadores e explicar-lhes o quão importante é ganhar este campeonato e que para o ganhar, temos de ganhar ao Rio Ave, ao Vitória, ao Tondela e ao Porto, Benfica e C.ia. Temos de ganhar a todos!
JJ tem de largar o fato e voltar a vestir o fato de treino e explicar, ie, gritar, a este grupo de jogadores que este é o campeonato mais importante da história do Sporting. Porque o é. Tal como o campeonato do ano que vem será o mais importante. E por aí adiante.
Alguém tem de ensinar a estes jogadores o que é o futebol português. Alguém de explicar como perdemos o campeonato de 2003/04. Alguém tem de lhes dizer o que se passou com a camisola do Rui Jorge após um Sporting-Porto. Alguém tem de lhes traduzir as escutas do Apito Dourado. Alguém tem de lhes mostrar o Benfica-Sporting de 2004/05. Alguém de lhes explicar que o Estoril-Benfica de 2004/05 foi jogado no Algarve. Alguém tem de lhes mostrar a final contra o CSKA Moscovo. A mão do Ronny de 2006/07. A final da Taça da Liga 2008/09. A eliminatória contra o Bayern. A meia final contra o At. Bilbao. Alguém tem de lhes dizer que o único clube a quem os árbitros fizeram greve, foi ao Sporting, em 2011/12. Alguém tem de lhes explicar como foram as eleições do Sporting em 2011. Como terminamos em 7º lugar, a pior classificação da história do clube, em 2012/13. Alguém tem de lhes explicar porque o árbitro da final da Taça de Portugal que o Sporting ganhou em 2014/15, desceu de divisão.
Alguém tem de lhes explicar que os adeptos do Sporting (des)esperam há 14 anos pelo título de campeão. Alguém tem de lhes explicar isto, pois tenho a certeza de que (ainda) não o fizeram. Como é que sei? Porque se o tivessem feito, o Joel Campbell nunca teria comemorado o golo do empate, à 8ª jornada, contra o Tondela, em Alvalade, da forma como o fez.
Estamos a 5 pontos do Benfica, em outubro! Ou seja, mais um deslize e acabou-se o campeonato. Acordem, caralho.
6 comentários:
"A ideia que dá é que JJ parece estar a ficar com medo. Um JJ sem medo já teria resolvido o problema do substituto de Adrien, desenrascando um "Manel" qualquer, em vez de ter apostado (e perdido) três vezes seguidas no Elias."
"JJ continua a usar nesta época o mesmo modelo, táctica, estratégia, wtv, que utilizava no ano passado"
Demonstras mesmo fraco conhecimento no que a JJ diz respeito.
Mas tem atenção as palestras que se podem ver por esta Internet fora, ao que JJ diz nas entrevistas onde puxam conhecimentos mais táctico...
JJ tem um sistema e dentro dele entram os jogadores que têm de ter determinado comportamento. Agora a forma como decidem esse comportamento é completamente alheio ao treinador. Treinador treina movimentos globais e dá várias decisões ao jogador que tem a bola, a decisão de qual deles segue é do jogador.
No que toca ao Elias...quantos jogadores JJ deixou cair? Se nem Cortez caiu quanto mais Elias.
Isso é tudo verdade Captomente. Concordo.
E por falar em qualidade (e já agora margem de progressão e benefícios futuros)...Petrovic vs Palhinha, Meli/Elias vs Francisco Geraldes ou Campbell vs Iuri também há algumas situações que devemos corrigir futuramente!
É exactamente isto Captomente.
Uma reflexão muito pertinente! Pouco teria a acrescentar.
Concordo com quase tudo o que diz, mas se me permite o atrevimento, você pertence a uma categoria de sportinguistas que eu definiria por "sportinguista-intelectual-tremendista-asneirento" (e na qual também eu próprio em certa medida me incluo), cuja principal característica, além do desespero em horas de aperto (na época passada estava tudo perdido após a derrota com o União, mas depois provou-se que não), passa por hiper-valorizar o potencial do nosso maior rival (o que está ligado ao hiper-escrutínio que lhe dedicamos), e por desvalorizar o nosso próprio potencial...
Além do clássico "pau no Patrício" (um passatempo muito "activo" na "Curva Sul" ou no "intelectual-tremendista-asneirento"), lá vem a sobrevalorização do "vertiginoso Benfica" que agora, mesmo sem o Jonas, até tem uma super-equipa cheia de gente que "sabe rematar à baliza" (Pizzi, Grimaldo, André Horta, Gonçalo Guedes, Cervi, Mitroglou são "super-rematadores", embora apenas o grego o seja na verdade), "em contraste com os poucos do Sporting que o sabem fazer" (Bruno César, Alan Ruiz e...) mais nada?!
Eu sei que o "sportinguista-intelectual-tremendista" ganhou um pó invisível ao Bryan Ruiz após o "falhanço do século" (que o fez descer quase à mesma categoria do "passivo-patrício"), mas o costa-riquenho não remata melhor à baliza que o Horta, o Guedes, o Grimaldo, ou o Cervi? Ele marcou 13 golos na época passada! Tantos como a sua lista junta (menos o Mitro e o Pizzi)... Brincamos ou quê?!
O Gelson (melhor jogador dos primeiros meses da Liga) não sabe rematar à baliza?!
O próprio Campbell não sabe rematar à baliza (acho até que é a nossa melhor solução para acompanhar o Dost)?!
Eu também vi o JJ com um olhar assustado, mas porra, o Bas Dost é mais goleador que aqueles nabos todos que você nomeou, pá!
Até o Coates sabe rematar à baliza (e até marcou um golo limpo com o Dortumd)!
"É que, ao final de contas, o que interessa é meter a bola dentro da baliza e, para isso, é preciso saber rematar a puta da bola."
Sem dúvida!
E quem melhor tem rematado a "puta da bola" nos jogos do SLB?
1.º Ali Ghazal marcou o primeiro golo do SLB contra o Nacional (após frangalhada monumental do guardião-"lampião-activo" Rui Silva)...
2.º Nuno Coelho marcou o primeiro golo do SLB contra o Arouca(após franca colaboração com o Nélson Semedo)...
3.º Luís Aurélio marcou o primeiro golo do SLB contra o Feirense (quando estava sozinho na área, sem ninguém a incomodá-lo)...
Estes rapazes é que foram os primeiros "grandes rematadores" do SLB nas primeiras jornadas da Liga, em jogos onde o SLB não conseguia fazer sequer um remate com perigo (!), malta muito mais eficaz que os "super-rematadores" Hortas, Guedes, Pizzis, Cervis, ou até Mitroglus, mas a outra característica do "sportinguista-intelectual-tremendista" é esquecer-se quem deu o colinho principal para a recuperação do SLB na época passada (e nunca mais se esquecer do falhanço de Ruiz debaixo do travessão da baliza do "super-activo" Ederson)...
Super comentário, JMF
Junto outros caracterista de muitos grandes scpguistas (e não digo isto como crítica - tenho muito amigos com esta característica - nem digo que é o caso do Capto *):
Um antijesuismo primário q encontrou neste mau momento a sua justificação de existir, onde sobressaem as más características de Jesus.
Quando a equipa andava bem, pouco havia a dizer. E não há incoerência nenhuma nos possuidores desta característica pois estes meus amigos diziam: " não posso com ele mas a equipa está a jogar bem, não posso exigir mais ao treinador ".
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