16 de janeiro de 2017

A Grande Evasão

A árvore


Esta época está a ser um tremendo fracasso. Mesmo que nos apuremos para a final da Taça de Portugal (a perspectiva de a podermos perder contra os lampiões "tetra-campeões" e vê-los a comemorar uma dobradinha, é assustadora...), esta época já "foi". Só por um milagre é conseguiremos ser campeões. E como todos nós sabemos, no Sporting não há milagres.  No início da época, havia João Pereira, Schelotto, Zeegelaar e Jefferson, como opções reais para as laterais. Em Chaves, jogámos com o Esgaio na direita e Bruno César na esquerda, ambos "terceiras" e irreais opções para o lugar. Não há milagres.

O diagnóstico a esta terrível metade de época já tem vindo a ser feito por muita gente, desde jornalistas, comentadores, adeptos e bloggers. É falacioso apontar uma única razão para "isto". Não é problema exclusivo dos árbitros, dos jogadores, do JJ ou do BdC. É de todos. As falhas cometidas por estes personagens, quando juntas, redundam em oito pontos de atraso para os lampiões, quarto lugar atrás do Braga (se vencerem hoje), eliminação das provas europeias e Taça da Liga. Uma vergonha, tendo em conta aquilo que foi alcançado na época passada e o que nos foi "prometido" para esta época. As contratações, mais uma vez, não foram reforços para a equipa, excepto Bas Dost. Campbell é voluntarioso mas demasiado trapalhão. Alan Ruiz pode ter um pé esquerdo que vale 5 ou 6 milhões de euros mas agonia-me ver aquela falta de vontade de correr, lutar, esforçar-se. Se Bas Dost se lesiona (3x na madeira!), temos como alternativa André e Castaignos. Castaignos... eu, que não me considero um expert em futebol, sabia bem do flop que este tipo foi em Itália, no regresso à Holanda e depois na 2ª divisão (!) alemã. Juro que não compreendo como é que foi possível haver alguém no Sporting que tenha achado que este gajo seria útil. Não compreendo mesmo. É um Pongolle mas mais barato.


JJ é o melhor treinador português mas é o pior manager que o Sporting teve desde Costinha. A forma como o Sporting entra em todos os jogos maravilha-me. As "apostas" de JJ horrorizam-me. Há muito tempo que ambicionava ver a equipa do Sporting entrar em qualquer estádio português - e em muitos europeus...- de forma autoritária, controladora e corajosa, sem medo de impor o seu jogo no meio-campo adversário. O problema é que esse meu deleite se esgota rapidamente, à medida da monotonia que o tal jogo autoritário e corajoso do Sporting se vai transformando num tipo de jogo previsível, inócuo e, pior, inseguro , pois estes jogadores do Sporting não fazem qualquer tipo de pressão alta imediatamente a seguir à perda de bola, o que transforma qualquer bola perdida por nós perto da área contrária, num contra-ataque perigoso para a nossa baliza. O plano inicial de JJ para o jogo do Sporting contempla muita posse de bola, circulação segura da bola e zero oportunidades de golo para a nossa baliza. O problema é que a realidade destrói sempre esse plano: em todos os jogos sofremos golos. E a equipa não está montada, física e mentalmente, para jogar no risco, à procura do "prejuízo". Lembrei-me que Markovic, por exemplo, é um jogador de "contra-ataque", de bola na frente e correr atrás dela. Ora, se o Sporting não joga assim, obviamente Markovic nunca terá sucesso nesta equipa. Não há milagres.

Sobre os árbitros, é chover no molhado. Se eu fosse treinador/presidente do Sporting, treinaria minha equipa para entrar em campo como se estivesse já a perder 1-0. Espanta-me esta constante bonomia dos responsáveis do Sporting perante a arbitragem nos inícios de épocas, como se durante o verão os árbitros tivessem deixado de ser benfiquistas... Eles não mudam. Eles são poucos e vão continuar a ser os mesmos durante mais algum tempo, pois parece que até o limite de idade (45 anos) vão alterar, para os 48 ou 50 anos, tal como se faz em Inglaterra. Sim, o Bruno Paixão ainda só tem 42 anos. #medo

É por isso que me irrita a tal falta de "ganas" com que os jogadores do Sporting enfrentam os jogos da Liga Portuguesa. Eu vi mais "vontade" nos jogadores do Feirense e do Chaves do que nos jogadores do Sporting. É triste mas é verdade, foi o que senti. Jogar melhor não significa ganhar mais. Ganha quem quer ganhar mais. Fazer "aquele" corte de carrinho aos 89 minutos, mesmo que isso signifique foder o joelho e arriscar uma lesão, desde que isso implique negar a oportunidade ao adversário de rematar à nossa baliza, é isso que deve estar em permanente pensamento na cabeça dos jogadores.

Custa-me dizer isto mas eu não vejo esta "vontade" colectiva no Sporting. Olho para a equipa e para os jogos e não consigo deixar de pensar na inveja que Adrien e William devem sentir dos seus colegas de seleção que jogam em Espanha, Alemanha ou Itália, no desconforto de Gelson em ser o jogador que tem o salário mais baixo da equipa ou na dúvida que Coates terá em ficar neste "extravagante" Sporting ou considerar os inúmeros convites que certamente terá de outros clubes europeus (e, quem sabe, portugueses...).




De todos os jogadores com contrato com o Sporting, daquilo que me é dado a ver, ao longo destes anos todos em que acompanho a equipa e os jogadores, apenas UM jogador do Sporting percebe bem a angústia que estamos a atravessar: Francisco Geraldes. É o único que eu tenho quase a certeza que percebe o que se está a passar. Ontem vi a "entrevista" aos capitães do Sporting na Sporting TV e a cara de desânimo dos dois, por este momento terrível do clube (8 pontos dos lampiões e com 14 anos sem títulos), é igual à minha quando não acerto o Placard por um jogo. Queria vê-los fodidos com a situação, irritados, convictos. Gostava de ver capitães do Sporting a chegarem ao fim dos jogos com sangue na camisola, literalmente. Não gosto de ver jogadores serem substituídos ao mínimo toque...

Os capitães têm de dar o exemplo e, daquilo que observo e tendo em conta aquilo que parece que se passou no balneário de Chaves, há problemas reais no balneário porque, ou os responsáveis do Sporting (BdC) não crêem que eles estão a dar tudo o que podem - o que é grave - ou os jogadores julgam que estão a dar tudo o que podem... e se isto é "tudo" aquilo que podem dar, temos problema, porque precisamos de muito, muito mais.

Faltam mais "galinhas pretas" no relvado de Alvalade e menos passarinhos no balneário.





A floresta




Esta época já foi. É importante que os responsáveis do Sporting entendam isso. Não há milagres na Liga tuga. É essencial começar a preparar já a próxima época. E a próxima época tem de ser com BdC e JJ no leme. Olho para o futebol português e imagino-o como um grande campo de prisioneiros da 2ª Guerra mundial. Os soldados alemães são os lampiões (e os árbitros, os portistas, jornalistas...) e os prisioneiros ingleses, os Sportinguistas. Há anos que estamos a tentar fugir da prisão, porque esse é o "dever de todo e qualquer oficial - tentar fugir da prisão e atormentar o inimigo ao máximo", como dizia o capitão Ramsey, interlocutor dos prisioneiros ingleses, ao Coronel Van Luger, no clássico "A grande evasão", de 1963.

Com Dias da Cunha, Soares Franco e Bettencourt, tentámos cumprir as regras e obedecer aos alemães, na esperança de obter dividendos que nunca vieram. Com Godinho Lopes e Pereira Cristóvão deu-se um passo maior que a perna e a atemorização aos árbitros alemães saiu pela culatra. Com BdC e JJ estamos a fazer aquilo que deve ser feito numa prisão: tentar fugir. Estamos, neste momento, a escavar um túnel e que nos levará - oxalá - para fora da prisão, rumo ao título. Imagine-se o absurdo que seria, se, a meio da construção do túnel, com este escavado até poucos metros da rede, houvesse um grupo mínimo de prisioneiros que resolvesse causar uma rebelião junto do grupo, de modo a desistir do túnel e começar, de novo, outra forma de sair da prisão. Todo o tempo despendido na construção do próprio túnel, o tempo gasto em reconhecer o terreno, a confiança ganha para conhecer as rotinas dos guardas, as vulnerabilidades do "sistema"... tudo por água abaixo para começar outro método de "fuga"? E este novo método envolveria ainda mais tempo, porque os "rebeldes" aparentam ter ainda menos capacidades do que os que estão neste momento a escavar. É o que tem acontecido ao Sporting nesta última década. Andamos a tentar novos métodos de fuga sempre que acontece uma adversidade. Não podemos dar-nos ao luxo de começar tudo de novo.

Urge preparar a próxima época, verificar quem está em condições de "escavar" e concretizar a fuga e dizer, cara a cara, aos "inaptos" que não se pode contar com eles, tal como fez o líder de esquadrão, Roger Bartlett, ao falsificador Tenente Colin Blythe, que a meio do tal "clássico" de 1963, perde quase totalmente a visão e torna-se um risco para a missão. Por amor de Deus, o Octávio Machado ganhou estatuto no futebol português porque andava durante a semana, às tantas da manhã a controlar os jogadores do Porto, de modo a obrigá-los a cumprir os planos de treino! Ninguém me consegue convencer da utilidade de Octávio no actual Sporting. O Sporting não se pode dar ao luxo de desperdiçar recursos. Cortar no que seja possível cortar (incluindo jogadores!) e apenas trazer para o Sporting quem é, de facto, mais-valias.


Todos os presidentes cometem erros. Desde Luís Filipe Vieira a Florentino Pérez. Por muito mal que esta época termine e se não surgir uma oposição verdadeiramente superior à actual direção, é essencial que BdC continue. E JJ também. Não vislumbro outra solução sem ser continuar a escavar.






O túnel de "A Grande Evasão"

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente texto e visao sobre a realidade do Sporting.

Nao sendo adeptodo clube folgo em saber que há muitas pessoas capazes e que nao seguem a ladainha de culpar apenas as arbitragens.

TJ