20 de setembro de 2014

Entrevista ao Miguel Prates

Caros sete leitores do blog, é com muito prazer que vos apresento uma entrevista exclusiva com o melhor narrador de futebol português, Miguel Prates! Ou, pelo menos, o meu narrador de jogos de futebol favorito. E porque é que é o meu narrador de futebol favorito? Simples. Além da forma clara e esclarecedora como consegue nos fazer perceber aquilo que estamos a ver, é alguém que, mesmo após estes anos todos a ouvi-lo a narrar jogos, nunca consegui “descobrir” de que clube é ele simpatizante! 

Se, numa semana, fico com ideia que o Miguel é adepto do clube X, quando o ouço na semana seguinte a narrar outro jogo, mudo de opinião e julgo que, afinal, torce pelo clube Y! E tem sido assim desde sempre. Ao contrário de quase todos os outros, acerca dos quais já cheguei a uma conclusão, seja ela correcta ou errada, sobre o clube com que simpatizam, no caso do Miguel Prates, até hoje, ainda não consegui chegar a conclusão nenhuma! Acho que é o maior elogio que posso fazer a um narrador de jogos de futebol, especialmente em Portugal.

É verdade, já há algum tempo tinha pensado em perguntar ao Miguel Prates se aceitaria responder a algumas perguntinhas sobre a sua profissão e sobre futebol em geral e esta semana decidi-me e perguntei. Confirmando a boa imagem que tinha dele, o Miguel Prates aceitou (quase de pronto)! 

Agradeço a disponibilidade ao grande Miguel Prates em perder tempo com esta patetice. Queria fazer perguntas inteligentes e com piada mas, infelizmente, saíram estas:



Com quem é que joga o Sporting: Apesar de ter memória do Miguel Prates na RTP, só me lembro verdadeiramente de si e da sua voz já na Sporttv. Para quem não o conhece bem, podia-nos contar o seu trajecto profissional e da forma como surgiu a narração de futebol na sua vida? É uma paixão de criança ou foi algo que surgiu por acaso?
Miguel Prates: O desporto e principalmente o futebol são uma paixão de criança até porque pratiquei federado 5 anos no Estrela da Amadora. A narração foi uma consequência da entrada para o desporto na RTP. Não foi fácil porque existiam grandes nomes mas acreditaram em mim e aconteceu.

CQJS: Sendo jornalista, qual a vertente da sua profissão que mais gosta de praticar: a entrevista, opinião, comentário, reportagem ou é mesmo a narração?
MP: Narração, reportagem e entrevista.

CQJS: Quais foram as suas inspirações para a narração de jogos, se é que teve algumas? 
MP: A minha inspiração é apenas o gosto pelo jogo.

CQJS: Não sente que houve muitas mudanças no jargão utilizado pelos treinadores da nova “geração” e que foram sendo importadas pelos narradores e comentadores de futebol, tornando-o mais “técnico” e mais “táctico”? Isso beneficiou ou prejudicou a relação dos adeptos/telespectadores com o jogo, na sua opinião? 
MP: A utilização de expressões técnicas não pode de maneira nenhuma selecionar os telespectadores. É para eles que trabalhamos e eles devem perceber tudo o que dizemos . Sou partidário de uma linguagem mais simples e entendível .

CQJS: Acompanha o que vai sendo dito nas redes sociais? Pondera alguma vez ter conta no Twitter, por exemplo?
MP: Não acompanho muito. Twitter, não.

CQJS: Ainda em relação à pergunta acima, costuma ler blogs “desportivos” ou outro tipo de sites que não os dos três jornais desportivos?
MP: Blogues, não muito por simples opção. Outros sites, sim, nomeadamente estrangeiros .

CQJS: Qual aquele jogo que jamais se esquecerá de ter narrado?
 MP: FC Porto-Bayern '87, Leverkusen 4-4 Benfica, Nápoles de Maradona-Sporting e Portugal-Irlanda.

CQJS: A maior gaffe que deu em direto?
MP: Gaffes, houve de certeza mas agora não me lembro de... nenhuma.

CQJS: Lembra-se se, durante a narração de um jogo, alguma vez se tenha “descaído” e desvendado a sua cor clubística inadvertidamente, por exemplo, quando comemorou um golo de uma forma mais “apaixonada” ou algo parecido?
MP: Não narro sempre de forma apaixonada, por isso dizem sempre que sou dos clubes que marcam golos.

CQJS: Maradona ou Messi?
MP: Maradona.

CQJS: Mourinho ou Guardiola?
MP: Mourinho.

CQJS: Os nomes de três jogadores que mais gostou de ver nos relvados portugueses nos últimos 30 anos?
MP: Futre, Falcão, Jardel.

CQJS: Acredita que algum dia o futebol português deixará de viver neste estado de “guerrilha” permanente em que estão envolvidos Benfica, Sporting e Porto?
MP: Não me parece. Difícil quando 90 por cento dos conteúdos dos programas desportivos versam o tema arbitragem.

CQJS: Como se diz: Pirlo ou Pilro?
MP: Pirlo.

CQJS: Como é que se ganha motivação para narrar um Cesena – Sassuolo, às duas da tarde de um domingo de agosto? 
MP: Fácil. Bola a rolar e entusiasmo na narração, não perdendo nunca a máxima que se tem de fazer bem, quer seja para um ou para um milhão.

CQJS: Qual a sua opinião sobre os canais de clubes? Vê-os como uma inevitabilidade, um sinal dos tempos, ou como algo positivo e com espaço de evolução? Seria capaz de trabalhar num?
MP: Canais de clubes, para mim não tem retrocesso. Entras num e não podes voltar aos generalistas .

CQJS: Gosta de ver jogos de futebol além daqueles que narra ou quando sai do trabalho e chega a casa, nem quer saber mais de bola?
MP: Há sempre tempo para ver um bom jogo mas geralmente prefiro um bom... jantar.

CQJS: A Sporttv “contratou”, e muito bem, diria eu, a treinadora de futebol, Helena Costa, para a sua equipa de comentadores de jogos de futebol. Crê que o futuro do futebol passa também pelas mulheres, seja como jornalistas, treinadores, jogadoras, adeptas ou mesmo dirigentes? Por exemplo, consegue imaginar uma mulher tornar-se presidente de um dos três grandes clubes num futuro próximo?
MP: A questão não é o sexo, é a qualidade e a competência.


Não posso deixar passar esta oportunidade para fazer algumas questões sobre os nossos principais clubes.


CQJS: Terá Lopetegui capacidade para criar uma forte equipa com o plantel que tem à disposição?
MP: Acho que já está a formar.

CQJS: O Benfica continua a ser o mais sério candidato ao título?
MP: Neste momento é difícil lançar dados com muita certeza... as equipas ainda estão em formação.

CQJS: Este Sporting de Marco Silva tem mais espaço para crescer ou nem por isso?
MP: O Sporting de Marco Silva tem margem de crescimento mas não com o cutelo do título por cima do pescoço.


CQJS: Nunca mais me esqueci de uma frase sua, no fim do jogo Itália 1-1 (5-3, a.g.p.) França, final do Mundial 2006, quando o Fabio Grosso marca o penalty vitorioso, a câmara foca o banco italiano e vemos o Marcello Lippi, de manga curta, levantando-se do banco efusivamente sem antes pegar no casaco, ao mesmo tempo que o Miguel dizia “Marcello Lippi, campeão do Mundo mas não se esquece do casaco”. Ahahah Genial! Lembra-se disso? 
MP: Não me lembro mas obrigado pela recordação. É sempre interessante recordar momentos divertidos porque a narração também é divertimento.


CQJS: Finalmente, a última pergunta: qual o seu clube… estrangeiro favorito??
MP: Os meus dois clubes estrangeiros são o Manchester United e o Real Madrid.


Pronto, já acabou! 

Volto a agradecer a gentileza em ter perdido um pouco do seu tempo em responder a umas perguntas de um blog qualquer que ninguém conhece, excepto os sete leitores habituais que têm o blog nos favoritos. É, de facto, incrível. (tanto o blog ter tantos leitores como o Miguel ter aceitado responder a algumas perguntas!)

Muitas felicidades para a sua carreira e espero que esteja p’ra breve o dia em que tenha o prazer de o ouvir dizer “Acabou o jogo! Portugal é o novo campeão europeu!” :)

MP: Espero que Portugal seja o próximo campeão europeu. Difícil, difícil...

2 comentários:

Mid disse...

O Miguel Prates é igualmente dos meus favoritos. Muito boa entrevista. E concordo quando ele diz que uma vez trabalhando num canal de clube já não se pode voltar a entrar num generalista, o rótulo fica lá.

RP disse...

Foi uma boa iniciativa esta entrevista. até há uns anos atrás, pensei que o Miguel Prates era benfiquista, mas alguém me disse que ele era Sportinguista e a partir daí passei a ouvir as suas narrações com mais atenção.