"A bandeira consiste de um campo verde escuro, representando a maioria muçulmana do país, com uma faixa branca no lado do haste, representando as minorias religiosas." |
Pervez Musharraf vivia, até há alguns anos, exilado no Dubai, depois de ter sido deposto e expulso do Paquistão, carregando com ele a cruz e a infâmia de ser um ditador aos olhos da maior parte da população. Musharraf era um general do exército paquistanês quando, em 1999, liderou um golpe de estado e conquistou o poder, destronando o então primeiro-ministro Nawaz Sharif, alguém que estava manchado por acusações de corrupção e quem os habitantes paquistaneses viam com bons olhos a sua queda. O general foi visto com um salvador, um libertador e liberal que iria guiar o Paquistão rumo à democracia, crescimento económico e social, ao mesmo tempo que ia detendo e neutralizando grupos de extremistas religiosos. E assim foi. Nos primeiros anos da sua liderança, Musharraf foi elogiado por todos, tanto no Paquistão, como internacionalmente. O país cresceu, em todos os aspetos. Mas depois veio o 11 de Setembro e tudo mudou.
Para tentar não ser muito aborrecido, vou tentar abreviar. George Bush, na sua nova cruzada anti "Eixo do Mal", tentou que vários países árabes e asiáticos se juntassem aos Estados Unidos. Ficou célebre o "Ou estão connosco ou estão contra os terroristas". O Paquistão de Musharraf, após alguma hesitação, aceitou juntar-se aos USA no combate aos terroristas. A guerra contra os taliban, que povoaram o nosso léxico e imaginário no início dos anos 2000, lembram-se? Tantos drones foram enviados para matar meia dúzia de terroristas, ao mesmo tempo que dizimavam aldeias paquistanesas inteiras e respetivos habitantes, que a paciência esgotou-se. E o então "libertador" Musharraf passou a ser, para a maior parte dos paquistaneses, o "ditador" Musharraf, aliado ao inimigo americano e que vendeu o sangue do povo paquistanês. Musharraf usou da sua mão de ferro e tentou, a todos os custos, conter a rebelião que gritava a sua cabeça e sua queda. Finalmente, em 2008, após um processo de impeachment iniciado pelos partidos rivais, Musharraf aceitou demitir-se do Governo e em outubro desse ano deixou o país, exilando-se no estrangeiro durante os próximos tempos.
Foi no Dubai que o autor do documentário do programa, um xiita, uma minoria perseguida (e assassinada) pelos sunitas do Paquistão e confesso admirador de Musharraf, o encontrou no seu apartamento, em frente a um pc, a sonhar com o regresso ao poder no Paquistão.
O documentário prossegue, lembrando tudo o que se passou até então - não tem interesse agora estar a contar - para, no final, mostrar-nos que Musharraf, após decisões de tribunais num sentido e o seu contrário, pôde finalmente entrar livremente no Paquistão, disposto a concorrer nas eleições legislativas de 2013. O homem estava mesmo convencido que poderia ganhá-las, ou, pelo menos, assim o deu a entender. O tribunal, finalmente, decidiu que não podia concorrer e, sentenciando-o ainda devido a crimes cometidos na altura em que governava o Paquistão, decretou a sua prisão domiciliária.
A meio do documentário, Musharraf está num estúdio no Dubai para responder, em direto, a perguntas de paquistaneses. A primeira pergunta é "Sr. Musharraf, nos 10 anos que nos governou, trouxe-nos terrorismo e fez-nos escravos dos americanos. Porque deveríamos votar em si?"
Ninguém se lembra do bom trabalho de Musharraf antes do 11 de Setembro. Ninguém quer saber do crescimento que o Paquistão teve nesses anos. Aquilo que ficou na memória e para história foi o que aconteceu de 11 de setembro 2001 em diante. Apenas alguns, como a minoria xiita paquistanesa, que viveu bem e sem medo durante esses anos, é que ainda hoje (na altura) votariam em Musharraf. Era impossível voltar ao poder. E não voltou, claro.
Por curiosidade, quem venceu as eleições nesse ano foi, precisamente Nawaz Sharif, o homem que Musharraf tinha deposto em 1999. Em 2017 foi forçado a sair do Governo novamente, devido a acusações de corrupção. Em 2018, foi eleito como presidente do Paquistão um ex-jogador famoso de críquete, chamado Imran Khan, um galã com pouca experiência anterior na política e que trouxe com ele uma lufada de ar fresco e um discurso optimista aos paquistaneses, fartos de anos de guerra, corrupção e pobreza.
"Eu pensava que conseguiria mobilizar as pessoas, fazendo-as relembrar os velhos tempos. Não fui bem sucedido. Talvez tenha falhado como político. Mas sem arrependimentos. Estes são os altos e baixos do destino."
Pervez Musharraf, em 2013, na sua casa durante a prisão domiciliária, em conversa com o realizador do documentário.
Ah! O documentário chama-se "Insha'Allah Democracy".
2 comentários:
Mais um bom post,este com uma lição de história.
Boas festas
Portanto, a tua defesa do Bruno é compara-lo a um ditador, corrupto, que perseguiu opositores, chegou ao poder pela força e que afirmava que a violação de mulheres no pais dele era meramente um meio que elas tinham para obter dinheiro, publicidade e um visto Canadiano. Isto para alem de algumas relações duvidosas com talibans e outros extremistas.
Parece-me bem! Continua o bom trabalho.
Ou és um puto que nem sabe do que fala, viu essa treta por mero acaso e achou que viu a luz ou és só parvo.
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