25 de março de 2014

Entrevista completa do Vicente Moura ao DN







DN: Foi eleito há um ano como vice- presidente para as modalidades. O Sporting volta a apostar no ecletismo e tem 34 modalidades amadoras. Vamos começar pelo ciclismo: quando é que regressa a Alvalade?

- Se não for nesta época poderá será na próxima, e sem custos para o Sporting. Não posso adiantar muito, mas queremos o Sporting na rua. Em jovem via Voltas a Portugal em bicicleta com as camisolas do Sporting. O ciclismo pode ser a grande atração de massas que o clube precisa.

DN: O ciclismo como modalidade autónoma?

- Não sou favorável a modalidades autónomas, mas o ciclismo é uma hipótese pensada para que possamos competir na Volta a Portugal. Não temos dinheiro, mas temos uma parceria benéfica, temos um projeto avançado que está garantido, só falta limar alguns pormenores.

DN: Que objetivos assumiu para as modalidades neste primeiro ano?

Manter o nível competitivo, se possível subir. O Sporting tem 34 modalidades, dez delas autónomas. Uma delas é o hóquei em patins. Nas modalidades autónomas, o Sporting não contribui com um cêntimo. No futsal reduzimos despesas e lideramos todos os escalões de competição. No andebol fomos buscar jovens à formação. Estamos numa taça europeia e é a primeira vez que um clube português passa à segunda fase e estamos em vias de chegar à terceira. Até brinco com os jogadores porque me estão a dar cabo do orçamento. No judo temos a mais compacta equipa de Portugal.

DN: E no atletismo?

- Fiz aquilo que disse que tínhamos de fazer; buscar o Carlos Lopes, que está a fazer um belo trabalho. Já há muito tempo que devia estar no Sporting. Fomos buscar um diretor técnico, Bernardo Manuel, que vai ajudar-nos a aproximar a Angola. Estamos a trabalhar para que o Sporting volte a ser uma grande escola de meio-fundo. É nesta área que o atletismo português é conhecido internacionalmente.

DN: Qual era o orçamento para as modalidades quando foi eleito e qual é o atual?

- O que posso dizer é que as modalidades em 2012 custaram seis milhões de euros ao Sporting e agora vão custar quatro.

DN: Explique lá como é que cortou...

- Assim é fácil. Nós fazemos um acompanhamento mensal para não haver surpresas. Eu sei exatamente quanto é o saldo do andebol, do futsal, do judo, etc. Não pode haver surpresas. Se não fizéssemos, o que poderia acontecer era chegar a março e não haver dinheiro. E depois a solução era acabar com as modalidades. E não gastamos nem mais um cêntimo.

DN: Nem mais um cêntimo?

- Isso não é totalmente verdade porque entretanto arranjámos sponsors em algumas modalidades e há entrada de dinheiro.

DN: Quanto absorve futsal, andebol e atletismo?

- Com o judo, 70% dos quatro milhões.

DN: Começa-se a falar com alguma regularidade dos êxitos do Benfica no atletismo. Estamos enganados?

Não. É verdade, mas vai terminar. Já terminou. Há 40 anos que o Sporting não ganhava um corta mato nacional feminino.

DN: O investimento do Sporting é muito diferente do do Benfica no atletismo?

- O Benfica gasta muito mais, investe mais em todas as modalidades.

DN: O Benfica forte é um desafio?

- O Benfica compra o material feito, nós compramos as peças. Temos de produzir atletas desde o início. Portanto, o tempo trabalha a nosso favor. Os grandes atletas que o Benfica tem estão para o desporto como eu estou para o dirigismo em termos de idade – em final de carreira. A Telma [ Monteiro] é uma excelente judoca mas só vai competir até aos Jogos do Rio 2016. O Benfica gasta dinheiro com atletas em final de carreira.

DN: Quanto tempo vai demorar o Sporting a igualar ou a superar o Benfica no atletismo?

- No fim do nosso mandato estaremos na frente. Seguramente. No último mandato, com Godinho Lopes, o que é que acontecia? Quando se chegava ao fim do ano decidia-se manter o orçamento, o mesmo do ano anterior mais a inflação.

DN: O Benfica tem obtido bons resultados nas modalidades...

- O Benfica não vai manter esse projeto muitos anos. Porque esta reestruturação financeira que estamos a fazer, o Benfica vai ter que a fazer mais tarde ou mais cedo. Basta ver o passivo do Benfica, que é mais do dobro que o do Sporting. Admito que têm uma marca que é mais poderosa, mas mesmo assim é insustentável. Portanto, esta tentação de comprar “a pronto” para levar o mundo do Benfica na canoagem ou no triatlo...

DN: Existe algum pacto de não agressão nas modalidades com o Benfica e o FC Porto?

- Não. Existe, sim, um acordo tácito e tem funcionado, principalmente com o Benfica. Se o atleta quer sair, aí não nos opomos. A questão é o aliciamento de atletas. Tive conhecimento no passado de que houve umas incursões do Benfica junto dos nossos judocas.

DN: O Benfica aliciou judocas do Sporting?

- Tive ocasião de protestar por escrito para a federação. É normal no final da época os atletas melhorarem as suas condições. A meio da época não é ético.

DN: O Sporting tem limitações nomeadamente com o pavilhão. Há a possibilidade de ultrapassar isso a médio prazo?

- Temos aqui terrenos perto onde estava previsto um pavilhão. Há um projeto aprovado por todas as forças políticas da Câmara Municipal de Lisboa. Custava 12,5 milhões de euros, mas o Sporting não tem dinheiro para isso. Estamos a pensar num pavilhão, paredes meias com o estádio, que poderá custar 4,5 milhões de euros. A meta do presidente é que as obras se iniciem até ao fim do mandato.




Nasceu em 1937, tem 77 anos Capitão de mar e guerra, na reforma da Marinha
Atleta de competição em natação, polo aquático, ginástica e basquetebol. Foi presidente do Sport Algés e Dafundo, onde iniciou a carreira de dirigente, e depois presidente da Federação de Natação entre 1982 e 1990. Membro do COP desde 1980, foi chefe da missão olímpica para os Jogos de Los Angeles ‘ 84. Presidente do COP entre 1990/ 93 e 1997/ 2013. Após os Jogos de Londres 2012, assumiu a vice- presidência para as modalidades do Sporting na direção liderada por Bruno de Carvalho.

DN: Já conhecia Bruno de Carvalho?

- Conhecia-o da anterior campanha. Eu, nessa altura, integrava a candidatura de Abrantes Mendes. Achei que Bruno de Carvalho era um homem determinado e que poderia ser a solução a curto prazo do Sporting.

DN: Quando falaram, ele convidou-o para as modalidades?

- Disse-lhe que não queria cargos. Mas ele disse-me que contava comigo para vice das modalidades.

DN: Foi um desafio?

- Foi. Sou de outra geração, a dele tem outras valências.

DN: Como avalia a atuação do presidente do Sporting neste primeiro ano?

- Fiquei maravilhado com a posição do meu presidente após a vitória sobre o FC Porto. Assumiu que o golo foi em fora de jogo. Isso é que é fair play.

DN: Sabia que a situação das modalidades era difícil e que para manter o Sporting competitivo teria de fazer cortes?

- Sabia que tinha de tomar decisões difíceis. Por vezes questionava- me: andei a defender atletas no Comité Olímpico, agora corto salários. Mas tem corrido bem. Falei com as pessoas olhos nos olhos .

DN: Que argumentos apresentou?

- Falta de dinheiro. Foi feito um acordo com os bancos e temos de cumprir. O problema era como cortar. Se não houvesse resultados diriam que tanto sacrifício para nada.


(EDIT: Afinal, a entrevista está completa. :P)

3 comentários:

Anónimo disse...

Outro tema. Captomente, aconselho-o a visitar o blogue Furia leonina para ler sobre coação. A não perder.

Captomente disse...

Viva!

Epah, brigado pelo comentário mas eu não encontro esse blog quando o pesquiso na net. Qual o link?

SL

Captomente disse...

Já encontrei. ;)

SL