30 de setembro de 2016

E o prémio #CarvãoDaSemana vai para... o monte de merda da Diana Santos Gomez, do Correio da Manhã/CMTV!

O prémio #CarvãoDaSemana, instituído por este blog a partir de hoje, vai para o monte de merda da Diana Santos Gomez, do Correio da Manhã/CMTV! Parabéns!


Esta gaja tem pinta de não saber o que é o prémio "Pulitzer".







Na quinta-feira da semana passada, na conf. de imprensa pré-jogo com o Estoril, tivemos as seguintes perguntas da divinal Diana:



"Começo por perguntar-lhe sobre João Capela, se acha que este árbitro vai fazer uma arbitragem 'limpinha, limpinha', como disse ter feito há três anos quando treinava o Benfica e, além disso, depois de ter caído para o 2º lugar, se continua a achar que as melhores equipas em Portugal são treinadas por si.








No dia seguinte, após o jogo com o Estoril, mais uma "pergunta" a meter nojo/carvão:



"Ainda não repetiu um onze esta época, pergunto-lhe porque é que tem sentido dificuldade em encontrar um onze de confiança."






Para terminar a semana em beleza, eis a "pièce de résistance": a típica "notícia" sobre problemas entre jogadores/agentes e o Sporting/BdC.

E o pormenor da notícia acima da do Gelson? Sempre a puxar o Benfica para cima, sempre a empurrar o Sporting para baixo.

Uma semana em cheio para o Gelson. E para a Diana.





27 de setembro de 2016

O "problema" dos 4 Campeonatos de Portugal e dos 4 Campeonatos da Liga (experimentais)

Antes de mais nada, se querem perceber, rápida e eficazmente, o problema dos "quatro campeonatos roubados ao Sporting", leiam este post publicado no Bola na Rede. Está lá tudo explicado. O que eu vou fazer aqui é dar a minha opinião sobre o "problema" dos 4 Campeonatos de Portugal (e dos 4 Campeonatos da Liga (experimentais) e acrescentar alguns itens que acho úteis à discussão.






De 1921 a 1934, havia uma competição nacional de futebol chamada "Campeonato de Portugal" que servia para apurar o campeão nacional. Esta competição era disputada por eliminatórias, tal como a actual Taça de Portugal. Era assim que também era encontrado o campeão de Itália, Alemanha e mesmo França, nos inícios do desporto-rei. O primeiro campeão italiano de futebol, por exemplo, foi o Genoa CFC (vulgo Génova), em 1898, após ter disputado apenas dois (2) jogos: uma meia-final e a final. Tal título continua oficial e completamente válido, conforme se pode verificar no site  da Liga Italiana e do próprio Genoa.


O extenuante percurso que o Genoa CFC teve de trilhar para ser tornar o 1º campeão italiano de calcio, em 1898.






Em França, apenas contabilizam os títulos das ligas profissionais (de 1932 em diante) mas a FIFA reconhece algumas das entidades que regiam o futebol francês em 1904 (U.S.F.S.A) e 1908 (U.S.F.S.A), logo, há "moral" para os clubes vencedores de então reivindicarem os seus títulos ganhos numa competição disputada em eliminatórias. O clube francês Standard Athletic Club não tem pejo em escrever, no seu site oficial, que em 1894 "(...) against all odds, it won a momentous final to become the first ever football champions of France."...


O percurso do Standard Athletic Club até se ter tornado o 1º campeão francês de football, em 1894






Na Alemanha, o panorama é idêntico e também já li que noutros países (Bélgica, Bulgária, etc) também era assim, em formato de eliminatórias, que se encontravam os respectivos campeões nacionais de futebol. Na página Wikipedia da "Lista dos campeões de futebol alemão", lê-se:

"Before the formation of the Bundesliga in 1963, the championship format was based on a knockout competition, contested between the winners of each of the country's top regional leagues."

E no site oficial da Federação Alemã de Futebol (Deutscher Fußball-Bund), encontramos a lista de todos os campeões alemães de futebol, antes e depois do aparecimento da Bundesliga (futebol profissionalizado).


percurso do VfB Leipzig até se ter tornado o 1º campeão alemão de football, em 1903, depois de bater o DFC Prag na final por 7 bolas a 2.







Enquanto andava a ler sobre este assunto, encontrei um site de um pseudo-jornalista português que, para considerar válida a transformação do Campeonato de Portugal em Taça de Portugal, foi comparar a FA Cup (Football Association Cup) e o surgimento da Liga Inglesa (The Football League), afirmando "Da mesma forma, em Inglaterra, o vencedor da FA Cup foi considerado campeão nacional até ao aparecimento da First Division". Ora, a FA Cup, competição disputada em forma de eliminatórias, nunca serviu para apurar o campeão inglês, logo a comparação é estúpida. Como é que sei? Enviei um email ao tipo responsável pelo site "Welsh Football Data Archive". A pergunta que fiz ao senhor Mel Thomas foi se "Alguma vez o vencedor da FA Cup, entre os anos 1872 (ano da primeira edição da FA Cup) e 1888 (surgimento da The Football League), foi considerado como sendo "Campeão de Inglaterra", seja pelos media ou entidades oficiais?" A resposta do senhor Mel Thomas: "It's not something I've come across. I've checked a lot of newspapers between 1872 and 1888 and found one example of "champions of England". This is from the Liverpool Mercury 2 April 1883. See attached. But I can tell you that it's not a common title."

A FA Cup servia para apurar o vencedor de uma competição chamada The Football Association Cup, apenas e só, e o vencedor do Campeonato de Portugal servia para apurar o Campeão de Portugal, apenas e só. Misturar os dois conceitos de competição é absurdo. Continuando.







Enviei emails à UEFA, FIFA, FPF, etc e estes tipos galeses foram dos poucos que responderam. "Diolch yn fawr iawn!"









"Saudemos o Campeão de Portugal!" [Club Sport Marítimo]  Revista "Eco dos Sports", #15, 13 de junho de 1926









Além destes países, também em Espanha havia um "Campeonato de España", que funcionava, tal e qual, como o nosso Campeonato de Portugal. Porém, com a inevitabilidade do profissionalismo no futebol, em 1928-29 surgiu a "Primera División de España", mais conhecida por "La Liga", tornando-se esta a principal competição em Espanha - a que define o campeão - e o "Campeonato de España" passou a ser a "Copa del Rey". Os "Campeonatos de España" ganhos antes de 1928 passaram a ser considerados como títulos da "Copa del Rey". Tanto quanto sei, em Espanha não houve (não há?) problemas em reconhecimento de títulos. Pelo menos, nunca me apercebi de tal. Mas em Espanha também não aconteceu o mesmo que em Portugal: não andaram quatro anos a disputar, "a título experimental", Campeonatos da Liga...



Ora, o "problema" dos Campeonatos de Portugal que o Sporting reivindica não pode ser resolvido sem antes se resolver o problema dos títulos da "Liga Experimental", que o Benfica reclamou a certa altura da década passada (2005) como sendo títulos nacionais de futebol.


A minha teoria é que, em 1938, quando se decidiu alterar o quadro competitivo do futebol português, deu-se início a um pacto "não-assinado" de "não-agressão" entre os clubes portugueses, dirigentes, jornalistas, etc, onde "decidiram" manter os seus palmarés, tal como estavam até então, ao contrário do que se fez em Espanha. Por exemplo, seguindo a lógica de nuestros hermanos, os Campeonatos de Portugal conquistados antes de 1938 (ou 34...) passariam a fazer parte do palmarés da Taça de Portugal mas não foi isso que aconteceu. Não houve essa junção de provas. O Campeonato de Portugal era uma prova distinta, a Taça de Portugal idem e o Campeonato Nacional 1ª Divisão (actual Liga) também. É por isso que hoje vemos no site do Belenenses, Benfica e Porto distinção entre competições no seu palmarés. (Já lá vamos ao Sporting...)

Campeonatos de Portugal não são Taças de Portugal. E Campeonatos da Liga (experimentais) não são Campeonatos Nacionais 1ª Divisão.

No livro oficial de comemoração do 1º centenário do futebol português, editado pela Federação Portuguesa de Futebol, em 1989, além de explicar bem o surgimento e relevância dos Campeonatos da Liga de 1934 até 1938, também demonstra, claramente, que os Campeonatos da Liga (experimentais) não podem ser considerados como títulos de Campeonatos Nacionais da 1ª Divisão (como o Benfica e Porto consideram).


Livro oficial de comemoração do 1º centenário do futebol português, FPF, 1989



Campeonatos da Liga são uma coisa...

... Campeonatos da 1ª Divisão, outra.

E, obviamente, a Taça de Portugal é outra coisa completamente diferente.



Até finais dos anos 90, início deste século, era assim que os palmarés dos clubes estavam divididos: Campeonato de Portugal, Taça de Portugal, Campeonato da Liga e Campeonato da 1ª Divisão. É por isso que em 1994, o jornal Record considerava que o Benfica ainda só tinha 27 títulos (e não 30, pelas contas de hoje).

#Not35




E não era só o Record que o dizia. A Panini também:


Tenho mais confiança na Panini do que na FPF

26 títulos da I Divisão #Not35




E mesmo A Bola, na sua obra literária mais importante da sua história, "Glória e Vida de Três Gigantes", editado algures nos anos 90, também considerava que Campeonatos da Liga (experimentais) são uma coisa e os Campeonatos da 1ª Divisão são outra:

Das poucas coisas de jeito qu'A BOLA já publicou.





Vencedores do "Campeonato da Liga" numa lista, vencedores do "Campeonato Nacional da 1ª Divisão" noutra.




No livro escrito "50 Anos de Benfica-Sporting" (1954), escrito por dois benfiquistas (Mário de Oliveira e Rebelo da Silva) e prefaciado por outro (Ribeiro dos Reis), os títulos também estão diferenciados. Campeonatos de Portugal (1922-1938), Campeonatos da Liga (1934-1938), Campeonatos Nacionais 1ª Divisão (1938-1959) e Taça de Portugal (1938-1959).


Os dois autores deste livro (Mário de Oliveira e Rebelo da Silva) também escreveram "História do SL Benfica (1904-1954)"

Campeonatos de Portugal num lado e Campeonatos da Liga (experimental) noutro.

Campeonatos da 1ª Divisão e Taças de Portugal




Portanto, na minha opinião, a contagem dos títulos deveria ser a mesma que era feita há 20, 30, 40 anos. Títulos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão e Taça de Portugal num lado, Campeonato de Portugal e Campeonato da Liga (experimental) no outro. O problema é que, a certa altura, o Benfica começou a contar os títulos do Campeonato da Liga (experimental) como sendo títulos nacionais e juntou-os à contagem dos títulos do Campeonato Nacional 1ª Divisão. Não sabia como e quando esta alteração de contagem tinha ocorrido mas graças à indicação de um grande militante Sportinguista (obrigado, @tonicasubtonica!), finalmente descobri a origem da mudança da história do nosso futebol. Conforme se pode ler no interessante blog "Em Defesa do Benfica", autoria de um historiador benfiquista que peca por ser demasiado... lampião, tal decisão foi tomada em 2004/05, momento em que a rivalidade Benfica-Porto estava ao rubro, com os portistas a vencerem títulos atrás de títulos e com o Benfica a tentar repor a diferença de modo a não perder distância no "campeonato dos palmarés". Aliás, o próprio autor do blog revela que ele foi uma das pessoas que esteve por trás dessa decisão. Sobre esta "guerra", lembro-me bem que, a certa altura, havia uma discussão nos cafés e nas tvs sobre quem teria mais títulos - se o Porto já tinha apanhado o Benfica ou se o Benfica ainda liderava - e até se discutia se as Taças Latinas, cuja competição o Benfica vencera por uma vez nos anos 50, seriam títulos oficiais ou não... Portanto, é neste ambiente do "futebol-português-que-só-tem-espaço-para-dois-grandes" que o Benfica decide, junto com a conivência da FFP gerida pelo daninho Gilberto Madaíl, acrescentar 3 títulos de campeão nacional, perfazendo 31 títulos, razão mais que perfeita para o Benfica liderado pelo megalomaníaco Luís Filipe Vieira mandar colocar 3 estrelas junto ao símbolo da camisola, simbolizando cada estrela, dez títulos.

Como é normal em Portugal, em estado #EstadoLampiânico* desde, pelo menos, os anos 30, ninguém se questionou sobre esta torpe jogada do Benfica, nem mesmo o Sporting da altura, que estava entregue ao "croquettismo" e certamente mais interessado em saber quanto valiam os terrenos de Alvalade do que propriamente preocupado com esta coisa chata do "futebol". Até o proponente historiador-lampião escreveu que a adição dos 3 títulos aos 28 "Acabou por ser mais fácil do que imaginava"...



*A bandeira: "Estado Bemfica" [cartoon de 20 de março de 1930] #EstadoLampiânico 


Chegados aqui, sendo eu a favor da contagem separada dos títulos, e deparando-me com esta sórdida jogada do Benfica, em considerar títulos que, na altura em que foram disputados, não eram considerados nacionais, só posso concordar com a decisão do Sporting em voltar ("voltar" é a palavra chave aqui) a considerar os Campeonatos de Portugal ganhos em 1923, 1934, 1936 e 1938 como seus títulos nacionais de futebol. Novamente no tal blog do historiador lampião, lê-se, num post acerca deste tema, uma referência a um livro escrito - em três volumes - pelo avô do actual presidente do Sporting, Eduardo de Azevedo. Diz o blogger lampião que, a certa altura no dito livro ("História e Vida do Sporting Club de Portugal"), na contagem dos títulos de futebol, o autor diferencia os títulos dos Campeonatos de Portugal dos títulos dos Campeonatos da Liga, o que é verdade, mas, lá está, também não os junta aos títulos da Taça de Portugal. A verdade é que, nos anos 1960s-1970s, altura em que o livro foi escrito, era mais ou menos assim que os títulos estavam divididos, tal como demonstrei acima, no início do post. Mas o historiador lampião esqueceu-se de mencionar a página 638 do Volume II, onde é mostrado um gráfico de 1940/41 do Sporting Clube de Portugal com os títulos ganhos pelo clube até então. E são cinco os "Campeonatos Nacionais de foot-ball" que o Sporting contabiliza em 1941, ou seja, dois anos depois do fim dos Campeonatos da Liga (experimentais). Cinco e não um, como o Sporting contabilizava até à época passada.


Livro, em três volumes, escrito pelo avô de BdC

Gráfico de 1940/41 e que contabiliza 5 títulos de Campeão Nacional de "football" (e não apenas um, como deveria ser pelas actuais contagens "oficiais") (in "História e Vida do Sporting Club de Portugal, Volume 2, pág. 638)



Mais. Em 1956, por altura da inauguração do antigo estádio de Alvalade, o Sporting edita e publica um livro oficial intitulado "50 Anos ao Serviço do Desporto e da Pátria". Não é um livro sobre a história do Sporting Clube de Portugal propriamente dito mas tem, no entanto, alguns factos sobre a génese do clube e dados sobre as modalidades do clube até então, entre as quais, o palmarés de cada uma. Na secção de futebol, o Sporting contabilizava, em 1956, treze (13) Campeonatos Nacionais de futebol, ou seja, o Sporting "juntava" os títulos do Campeonato de Portugal com os títulos do Campeonato Nacional. Portanto, a decisão desta direção de 2016 voltar ("voltar", a tal palavra-chave) a considerar os títulos do Campeonato de Portugal como títulos de campeão nacional de futebol não é uma decisão estapafúrdia e extemporânea. O Sporting Clube de Portugal tem toda a moral para considerar ter 22 títulos de campeão nacional em vez de 18. A RSSSF, por exemplo, concorda com o Sporting.




Entretanto, deixo uma pergunta aos lampiões que se deram ao trabalho de ler até aqui. Como decerto saberão, os principais clubes europeus e vários grupos económicos (chineses, americanos...) estão interessados em transformar a actual Liga dos Campeões, disputada em forma de fase de grupos e eliminatórias (e já antes transformada de uma prova apenas a eliminar...), numa nova "Super Liga Europeia", fechada e, imaginemos, disputada em forma de «poule», ou seja, jogos de ida e volta. Se se confirmar o surgimento de uma "nova" competição, deixarão de contar como seus os títulos europeus de 1960/61 e 1961/62, tal como não querem que o Sporting Clube de Portugal conte com os títulos nacionais de 1922/23, 1933/34, 1935/36 e 1937/38?



Vamos ignorar o photoshop, ok? Afinal, estamos a falar de um livro de 1956... :P

Gráfico de 1956 e que contabiliza 13 títulos de Campeão Nacional de "football" (e que prova que esta contagem dos 22 títulos de campeão não é invenção contemporânea) (in "50 Anos ao Serviço do Desporto e da Pátria, pág. 56)



                                     

                                                     "O melhor dos títulos portugueses"






Num país como o nosso, é a moral da "coisa" que me interessa, mais do que qualquer aspecto legal relacionado com a oficialização dos títulos. Por exemplo, interessa-me mais o conteúdo das escutas do Apito Dourado do que saber se elas foram obtidas de forma "ilegal". E interessa-me muito mais tentar perceber se os jogadores da época davam mais atenção ao Campeonato de Portugal ou ao Campeonato da Liga (experimental). Seria interessante sabê-lo. Mas também é deveras interessante saber que, em 1936, os jornalistas da época consideravam o Campeonato de Portugal como o melhor dos títulos portugueses do que saber que, em 2005, a FPF achava que era o Campeonato da Liga (experimental). Seja como for, mesmo no aspecto legal, o Sporting Clube de Portugal não tem motivos para se embaraçar neste desígnio de reivindicação dos títulos do Campeonato de Portugal como sendo títulos oficiais de campeões nacionais de futebol.





"O público desportivo tem os olhos postos no campeonato de Portugal de football. A competição tem um interesse enorme. Quer dizer, o campeonato das Ligas não esgotou o entusiasmo da massa desportiva. Aproxima-se o fim da competição, pois estamos nas meias finais. Apenas 3 domingos e conhecer-se-á o campeão de Portugal, aquele que ostentará durante uma temporada inteira o melhor dos títulos portugueses." (Diário de Lisboa", #4513, 12 de junho de 1935)



"Diário de Lisboa", #4513, 12 de junho de 1935




jornal "Os Sports", presumo que do dia 6 de julho de 1936, um dia depois da final do Campeonato de Portugal (Sporting 3-1 Belenenses)




No livro "As Origens do Futebol", de Manuel Sousa, encontramos, além da prova de que o Campeonato de Portugal, em termos de importância, era superior ("ficou resolvido promover a título experimental os campeonatos da Liga, I e II Divisões, sem prejuízo dos campeonatos distritais, nem do Campeonato de Portugal"), o confinamento e especificidade dessa competição limitada aos anos de 1934-1938.

Livro pouco interessante mas útil (para quem quer saber mais da história do 'foot-ball' em Portugal)


Ricardo Ornellas, lembrem-se deste nome.




"impediu-lhe o estatuto de Nacional"




"com a formação de um verdadeiro Campeonato Nacional"


Mas é no livro oficial "Federação Portuguesa de Futebol, 1914-1989, no 1º Centenário do Futebol Português, Os Anos de Diamante" que podemos perceber bem que, de facto, entre 1934 e 1938, anos da alteração do modelo competitivo do futebol português, era o Campeonato de Portugal que definia quem era o campeão nacional. Lê-se assim na página 111:


"Analisada a questão, ponderados os prós e os contras, a direcção federativa aprovou o regulamento e decidiu, finalmente, organizar os campeonatos da Liga, deixando bem expresso em acta... ficou resolvido promover a título experimental os campeonatos da Liga, I e II Divisões, sem prejuízo dos campeonatos distritais, nem do campeonato de Portugal. (...)

Na remodelação global para encaixar os torneios da Liga na programação anual portuguesa teve de se recorrer a indispensáveis reajustamentos (...) 2- Ao campeonato da Liga da I Divisão - também em «poule» - houve que limitar a entrada a oito clubes de um reduzido número de Associações (4) - Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal -, o que o impedia, por restrição territorial, de ter o estatuto Nacional.

3- O campeonato de Portugal (embora continuando pelo sistema de sucessivas jornadas de eliminação, abrangia, praticamente, todo o território português, daí a justeza da sua denominação) viu-se obrigado a reduzir o número de jogos e, para isso, a solução encontrada foi acabar com a fase prévia do Torneio de Classificação, em vigor nos anos anteriores, passando os campeonatos da Liga a servir de trampolim na qualificação de todos os clubes para a prova máxima. E assim se estabeleceu e ficou regulamentado: No Campeonato de Portugal - prova máxima do nosso futebol - participam 15 clubes, a saber: os oito qualificados através dos regionais para a 1ª Liga; os vencedores (4) das quatro zonas do campeonato da 2ª Liga; mais os dois apurados entre os 2ºs classificados das mesmas zonas e, ainda, o representante das ilhas, apurado entre Madeira/Açores.

Assim regulamentou a Federação Portuguesa de Futebol e só por isso o Campeonato da Liga - prova subjacente do Campeonato de Portugal para a qualificação das equipas com direito a disputá-lo - nunca pôde ser equiparado aos nacionais, iniciados em 1938/39, com a nova regulamentação que extinguiu os antigos campeonatos de Portugal."

Livro oficial de comemoração do 1º centenário do futebol português, FPF, 1989, pág. 110

Livro oficial de comemoração do 1º centenário do futebol português, FPF, 1989, pág. 111



Na página 116, lê-se:

"E, a seguir, justificava-se pormenorizadamente a regulamentação das novas provas, os Campeonatos Nacionais de I e II Divisões e a Taça de Portugal, dizendo-se a dada altura que... para por em prática toda esta realização há que acabar com os campeonatos das 1ª e 2ª Liga e substituir o Campeonato de Portugal das jornadas em sucessivas eliminações, por um campeonato de maior rigor e regularidade pelo sistema de «poule» em duas voltas."

Página 118:

"O sistema adoptado foi de facto o mesmo dos anteriores campeonato da Liga, mas esta prova, ainda no dizer dos legisladores... restrita a oito clubes de quatro Associações, não tinha dimensão nacional, por isso a solução encontrada, na impossibilidade de momento de se ir mais longe, é a da abertura de uma porta de acesso aos dois Campeonatos Nacionais das I e II Divisões."




Repitam em voz alta: "Não tinha dimensão nacional". "Não tinha dimensão nacional". "Não tinha dimensão nacional".

Livro oficial de comemoração do 1º centenário do futebol português, FPF, 1989, pág. 116

Livro oficial de comemoração do 1º centenário do futebol português, FPF, 1989, pág. 118



E, respondendo à dúvida sobre o que fazer aos títulos ganhos de 1938 para trás, efectuada por um dos próprios mentores de então à alteração do formato de competição, o anteriormente referido Ricardo Ornellas, leiamos o que tinha a dizer a Federação Portuguesa de Futebol (em 1939), na mesma página 118:


"E, assim, como dizíamos atrás, os campeonatos nacionais foram, efectivamente, tornados oficiais a partir de 1938, mas... o da I Divisão, sem a perfeição desejada pelos seus criadores, capitão Maia Loureiro, capitão Ribeiro dos Reis e Cândido de Oliveira.

Nem tão-pouco pelo homem que mais se bateu pela criação de um campeonato nacional em «poule», o jornalista Ricardo Ornellas, que, dois dias antes da nova prova começar, na edição nº 2132 de «Os Sports», de 7 de Janeiro de 1939, escreveu: Ficou-se, assim, com um campeonato injustificadamente fechado. Mas no final de contas, recordando bem as coisas, não há que admirar porque, no que respeita a nomes dados às várias competições organizadas no nosso país, é pecha antiga a impropriedade das designações. Este novo campeonato nacional é, pois, mais um torneio impropriamente intitulado. E tão próprio que até custa tomá-lo como seguimento dos anteriores campeonatos de Portugal. De resto, é questão a colocar à Federação. Da prova que depois da amanhã começa sai o 18º campeão de Portugal, cujo nome se inscreverá a seguir ao do Sporting na lista dos vencedores do torneio começado em 1922 [O Campeonato de Portugal], ou, apenas, primeiro vencedor do campeonato nacional, prova nova. Vale, realmente, a pena fazer-se esse esclarecimento."


"Primeiro ou décimo oitavo?", a mesma dúvida de Ricardo Ornellas (Infelizmente, não sei de que jornal e edição se trata)



Portanto, em 1939, a maior sumidade intelectual do futebol português de então, o influente Ricardo Ornellas, nem sequer colocava a hipótese dos vencedores do Campeonatos da Liga (experimentais) de 1934-38 poderem ser considerados como campeões nacionais!




Continuando na página 118:

"A questão nunca se levantou pondo em causa os campeonatos da Liga, que foram importantes, tiveram a sua história, mas nunca foram considerados, oficialmente, nacionais. Nas quatro épocas em que se realizaram, a prova número um foi o Campeonato de Portugal. E, claro, que não podia de modo algum proclamar-se, na mesma época, um campeão de Portugal e um campeão nacional. Seria um absurdo.

Isso nunca esteve em causa a nível oficial. Em causa esteve, sim, o esclarecimento pedido por Ricardo Ornellas, no momento oportuno, e, posteriormente, por outras entidades a que a Federação respondeu, acabando com todas as dúvidas e confusões: São campeões de Portugal todos os clubes que ganharam esta prova, propriamente dita, de 1921/22 até 1937/38 e serão campeões nacionais os clubes que vierem a ganhar a competição, organizada em novos moldes, a partir de 1938/39."


Depois de se ler o que está sublinhado, ainda há dúvidas? Para terminar, o autor do livro ainda acrescenta:

"Depois de tudo isto que se passou e se encontra documentado, como o mais válido testemunho nos arquivos da Federação e nos jornais da época, ninguém pode alterar ou desviar o curso da história da prova, oficialmente regulamentada pelo organismo máximo, mandatado pelas Associações para gerir os destinos do futebol português"

... Excepto se se tratar do Benfica, acrescento eu.





Em outubro de 1938, dois meses após a alteração oficial do modelo competitivo em Portugal, realizou-se, no campo das Salésias, o I Congresso Nacional de Futebol, organizado pela FPF e com o propósito de comemorar os 50 anos do futebol em Portugal. Nesse ano de 1938, tínhamos então o Benfica vencedor do 4º e último Campeonato da Liga (experimental) e o Sporting Clube de Portugal, vencedor do 17º Campeonato de Portugal. O Benfica reivindica como seu, o título de campeão nacional desse ano; o Sporting Clube de Portugal, idem.


Quem foi, afinal, o campeão de 1937/38? A quem chamariam "Campeões de Portugal" os homens desse tempo? Quem tem mais moral para se considerar campeão?