16 de fevereiro de 2017

(Ainda) do Palhinha e da hipocrisia

Quando Jorge Jesus, até contrariando o mito de que nunca se dá como culpado nos maus momentos, assumiu ter “dado o guião errado” a Palhinha no jogo do Dragão e lhe apontou os maus primeiros 30 minutos (que acho que todos vimos, tal como os bons restantes 60), a imprensa, com o seu habitual moralismo fácil e superficial, foi incrivelmente rápida a fazer sobressair essas palavras, muitas vezes descontextualizado e mentido, até. Em segundos, estavam as lanças todas apontadas. A JJ, que, de repente, em vez de ter apontado naturalmente um momento individual do jogo, já tinha culpado, criticado e queimado o jogador; ao Sporting, que rapidamente descobriram ter recuperado os miúdos dos empréstimos para nada; e ao próprio Palhinha, que tornaram num coitadinho incapaz e violentado. E essa é a maior ironia de todas: a imprensa, enquanto criticava Jesus por aparentemente queimar o miúdo, fazia exactamente o mesmo. Todos podiam ter desfeito logo a falsa questão, chamando à razão os que iam na polémica e, para quem acha que JJ o criticou mesmo, o próprio treinador. Teria sido tão fácil exaltar tudo o que de bom ele fez nos minutos que se seguiram à primeira hora, pegar nas estatísticas que até foram (bastante) superiores às de Danilo, reforçar que o discurso do treinador só referiu aquela meia-hora e nada disse sobre o resto do jogo, pegar noutros casos em que JJ individualizou sem que isso quisesse depois dizer que deixasse de acreditar no jogador em causa, etc. Mas todos os meios de comunicação preferiram o fácil, atacando o monstro do treinador e fazendo de vítima o indefeso do miúdo (arte em que se têm especializado, com os jogadores do Sporting a serem os coitadinhos que recebem pouco, que estão presos, que levam com gritos, que são chamados à atenção em público, etc.) Alimentaram a polémica, chamando o seu nome para o tribunal da opinião pública, com a ideia adquirida de que esteve mal, foi culpado, etc. (o que JJ no fundo nem disse, ainda por cima). Ou seja, quem criticou JJ por prejudicar o Palhinha acabou por fazer exactamente o mesmo.
Hoje, esses santinhos da imprensa, que supostamente defendem sempre os oprimidos dos adultos, conscientes, profissionais, bem pagos, que são os jovens jogadores do Sporting, não hesitaram em atacar mais um deles, dizendo que o Francisco Geraldes foi, "contrariado" e "forçado", despromovido para a equipa B (quando, curiosamente, Rui Pedro foi só ajudar o Porto B, para depois voltar à equipa principal). Sei que também este é um não-assunto, até porque todos sabemos o valor do Xico. A questão aqui é o quão exposta fica a hipocrisia dos media deste país, que fazem de Jesus uma besta por simplesmente individualizar um jogador (que ele próprio lançou), mas todas as semanas aproveitam todas as oportunidades que têm para fazer muito pior, tentando queimá-los mesmo antes de começarem. Sei que já estamos fartos de saber desta dualidade (e por vezes má intenção, mesmo) do jornalismo português, mas é sempre bom deixá-la à vista, até porque penso que, neste tema particular da formação, vai acentuar-se cada vez mais.

A aposta de JJ na formação do Sporting não é só isso. É o desmoronar de uma teoria que o Benfica e todos os seus "aliados" têm montado ao longo dos últimos anos. Se se confirmar a sua aposta na formação no Sporting (como tudo indica, com Gelson, Semedo, Esgaio, e agora Geraldes, Palhinha e Podence), constata-se que afinal não foi pela aversão de JJ à formação, que eles tanto têm apregoado, que o Benfica não apostou na academia ao longo destes anos. E isso reabre a questão: então, por que motivo foi? E é essa discussão que eles querem ao máximo evitar. Porque vai desaguar naquilo que sempre soubemos: simplesmente porque a formação do Benfica nunca foi boa o suficiente. É por isso que estes miúdos são tão importantes, é por isso que têm tantas lupas apontadas a si, é por isso que todos torcem para que falhem. E é por isso que temos de ser duplamente cuidadosos neste tema. Não ir em conversas fáceis e polémicas. Dar-lhes tempo, sempre com a exigência e a seriedade habituais. Por um lado, até é bom. Esta pressão toda vai funcionar como um teste: não só ficam já a perceber que pertencer ao Sporting é ter muita gente contra nós, como ficamos nós a perceber se têm ou não o que é preciso para nos representar, porque sinceramente, um jogador que não aguenta ouvir o país a falar sobre uma frase que o treinador disse sobre ele não interessa muito ao Sporting. Felizmente, até aqui, na minha opinião, e ouvindo as suas declarações na academia depois do clássico, têm todos passado no teste. 

1 de fevereiro de 2017

Erro, de facto

 Não sou especialista na matéria mas sei que, basicamente, há dois tipos de erros de árbitros nos jogos de futebol, os "erros de facto" e os "erros de direito". Sei isto porque, nas milhentas polémicas do futebol português, já houve uma ou outra que tinha a ver com o assunto. Um jogo entre equipas grandes, um erro (grave) do árbitro e uma das equipas colocava a hipótese de o resultado ser anulado e o jogo repetido. Basicamente, se um árbitro conhece completamente as regras do futebol e depois comete um erro ao avaliar um lance, percepcionando mal o que realmente aconteceu, como por exemplo, quando avalia (mal) se foi bola na mão ou mão na bola, e daí resulta prejuízo para uma das equipas, por muito que hajam queixas da equipa perdedora, o resultado nunca poderá ser anulado e novamente jogado. Estes são os "erros de facto". Porém, se um árbitro comete um erro (grave), demonstrando desconhecimento das regras ou aplicando mal essas mesmas regras, há razões para resultado final poder ser anulado e/ou o jogo repetido. Por exemplo, um jogador marca golo de canto direto e o árbitro entende que não é válido e assinala pontapé de baliza. Esses são os "erros de direito".






Quando ouvi hoje o mandatário da candidatura de Pedro Madeira Rodrigues, no acto de oficialização da candidatura, elogiando bastante Bruno de Carvalho, e terminando até o louvor ao actual presidente do Sporting com um "Se tivéssemos sido campeões se calhar não estávamos aqui a apresentar uma alternativa", perguntei-me a mim mesmo "Eu ouvi bem? Estes tipos só se candidatam por causa de dois (2) pontos na classificação da equipa de futebol profissional na Liga NOS?". E a restruturação financeira? A Sporting TV? A revitalização das modalidades? O regresso do hóquei? A subida do número de sócios? O pavilhão João Rocha? Estes gajos não têm vergonha na cara? Submetem o clube a um processo eleitoral - não quero ser "mal-criado"...- vazio, triste e talvez até prejudicial, apenas porque ficamos a dois pontos do primeiro classificado da época passada?? Isto é como se uma equipa perdesse um jogo 7-0 e quisesse repeti-lo porque o árbitro se tinha enganado num lançamento lateral. A candidatura de PMR alega um "erro de facto" para anular quatro épocas de sucesso crescente apenas porque numa das épocas fizemos 86 pontos em vez de 88.

Uma candidatura séria à presidência do Sporting Clube de Portugal, neste momento e contexto, tinha de alegar, no seu manifesto, vários e graves erros à actual direção. além de meras críticas à postura ou carácter do actual presidente. Uma candidatura séria tinha de apresentar "erros de direito", como por exemplo, salários em atraso, reestruturações financeiras atrasadas pré-PER, falta de pavilhão ou subida alarmante da dívida da SAD, é que me percebem... Assim, é uma fantochada.