21 de janeiro de 2018

killer instict

Interessante, a crónica de opinião do António Tadeia, hoje no DN e no seu site pessoal, sobre o momento do Sporting. Concordo com tudo e é engraçado ver que partilhei algumas das ideias dele no meu post, há uns dias atrás. Até a falta de "killer instict" desta equipa do Sporting mencionei.





"Coentrão e o ADN do Sporting


A forma como Fábio Coentrão descarregou a sua frustração no banco de suplentes do Estádio do Bonfim, depois de perceber que o Sporting ia ali deitar à rua dois pontos, com um golo sofrido em tempo de compensação, mostra acima de tudo uma coisa: o lateral vila-condense está habituado a ganhar e não a perder pontos desta forma. Pode até ser "feito de Sporting", como disse no momento em que assinou pelo que sempre foi o seu clube do coração, mas não é daquela parte do ADN do Sporting que cresceu exponencialmente com a conquista de apenas dois títulos nacionais nos últimos 35 anos: a parte fatalista e muitas vezes até sobranceira que já esteve à mostra, por exemplo, há dois anos.

Jorge Jesus já disse uma série de vezes que não compreende como perdeu esse campeonato de há dois anos, tendo feito 86 pontos. A resposta mordaz é sempre a mesma: porque o Benfica fez 88. Mas essa é a resposta para memes de Facebook. A razão mais profunda fala-nos de outras coisas, como a sobranceria, a falta daquilo a que, em tempos, Bobby Robson chamou killing instinct [instinto assassino]. Porque é disso que se fazem os campeões. Há dois anos, na jornada anterior à do desafio decisivo contra o Benfica, o Sporting foi a Guimarães com quatro pontos de avanço, teve ocasiões para ganhar, mas perdoou: empatou a zero. Ainda assim, jogou o dérbi, em casa, com um ponto de avanço. E voltou a perdoar, perdendo por 1-0. Tal como perdoou na sexta-feira em Setúbal, quando o adiamento da segunda parte do Estoril-FC Porto, mais a mais com os dragões em desvantagem, o deixou na frente da classificação. Era facilidade a mais.

Tal como disse Sérgio Conceição depois do FC Porto-CD Tondela, há pressão que é boa: a pressão de ganhar para ficar à frente. Difícil é jogar sem ela, sem essa pressão. Há dois anos, depois de se ter deixado ultrapassar pelo Benfica, em relação ao qual chegou a ter uma vantagem bastante confortável, o Sporting não voltou a perdoar. Ao contrário do que sucedera antes, já tinha pressão. Simplesmente, o Benfica também respondeu à pressão, ganhando os seus jogos e conduzindo o campeonato a uma longa corrida entre duas equipas que o acabaram com uma pontuação irreal: 88-86. Nessa altura, os jogadores do Benfica - que, continuo a achar, jogava menos do que o Sporting, nessa Liga - mostraram uma coisa: espírito de campeões. E como se tem esse espírito de campeão, esse instinto assassino? Ganhando, habituando-se sempre a ganhar.

Parece a história do ovo e da galinha: não se ganha sem espírito de campeão e não se adquire espírito de campeão sem ganhar. Mas não é preciso sequer pensar muito para se perceber que nem os jogadores que compõem o atual plantel do Sporting nem o futebol do clube têm um passado recente de muitas vitórias. As exceções serão Coentrão e, até certo ponto, Mathieu. Os outros, mesmo que a política desportiva do clube tenha mudado com Bruno de Carvalho, podem mesmo ter desenvolvido um determinado nível de resignação próprio daqueles para quem não ganhar é o mais normal e, por isso, aceitável. Rui Patrício é um guarda-redes de classe Mundial, já é o segundo jogador que mais vezes representou o Sporting - e em breve será o primeiro -, mas não sabe o que é ser campeão nacional. Como não o soube Luís Figo, como o não souberam Cristiano Ronaldo ou Nani.

Como se muda isto? Com todos os defeitos que tem, sobretudo na comunicação obsessiva e muitas vezes incorreta acerca dos adversários, Bruno de Carvalho tem feito por isso. Passou a recusar a saída dos jogadores antes de atingirem um determinado nível de serviços prestados. Está a reforçar a equipa de uma forma massiva, apetrechando-a de soluções que, em termos futebolísticos, lhe adivinham melhorias. Se é uma aposta consciente ou uma fuga para a frente, capaz de levar o clube a grandes dificuldades, o futuro o dirá - e este texto nem é acerca disso. Mas tomara o Sporting que mais jogadores tivessem sentido os índices de revolta de Coentrão depois do empate em Setúbal, ainda que sem partir nada. E tomaram os sportinguistas que ser "feito de Sporting" fosse aquilo e não as promessas tantas vezes repetidas de "levantar a cabeça" e esperar com resignação por dias melhores."

5 comentários:

Jordão disse...

O maior problema do Sporting é o cabrão do vedetismo. Em insistir demasiado em jogadores bons de bola mas sem a mentalidade competitiva de clube candidato a títulos. Somos um clube que idolatra os Matías Fernandes, o Bryan Ruizes e Monteros desta vida...

Com o Jesus esse desnível tem vindo a diminuir, felizmente. Já temos uma equipa que do ponto de vista atlético não fica atrás dos rivais. Ainda não há muitos anos perdíamos em tudo, desde a altura à velocidade, mas ainda nos falta a objectividade necessária, que resulta no tal "killer instinct". O jogador deve ser encorajado, quando não mesmo obrigado, a perceber que o seu jogo tem de ter um objectivo para a equipa e não para recreação.

A sobranceria e o vedetismo não afectam só os mais novos, mas mesmo os mais experientes. Quantas vezes não vimos o Sporting sofrer golos depois de os marcar? Como se explica tanta desconcentração senão com a displicência? A vergonha que aconteceu em Setúbal para o campeonato já podia ter acontecido com o Cova da Piedade, ou com o Belenenses para a Taça da Liga. Alguma vez se admite os golos que o Sporting consente?

Captomente disse...

@Jordão, grande comentário. Concordo com tudo e, inclusive, estão aí coisas que já pensei nelas demasiadas vezes. Lembro-me bem de falar sobre a falta de altura e peso dos jogadores do Sporting, nos tempos que lutávamos contra Hulk, Falcao, Cardozo, etc. JJ sabe bem disso e tratou de trazer "homens" para o plantel, contudo, só isso não chega, como bem sabemos. A falta desse "killer instict" está à vista e não é problema desta época. Como o Tadeia diz, isto é um problema porque "não se ganha sem espírito de campeão e não se adquire espírito de campeão sem ganhar." Estes jogadores não sabem ganhar (exceptuando um ou outro - Mathieu, Coentrão) e, pior, parece que já não se importam se não ganharem.

SL

Jordão disse...

Se não se importam de não ganhar, isso é inaceitável! Somos o clube que está há mais tempo sem ganhar, por isso temos obrigatoriamente de ser a equipa que mais quer ganhar!! Menos do que isso é vergonhoso!

Captomente disse...

Provavelmente é defeito meu, mas vejo sempre muita mais vontade de ganhar nos jogadores do Benfica e, atualmente, do Porto do que vejo nos do Sporting... Enfim.

SL

Lanterna disse...

Triste sina, a nossa... parece que vivemos sempre na eterna dúvida de quem nasceu 1º, o ovo ou a galinha?
Mas a triste verdade é que falta garra, alma, raça e outros adjectivos equivalentes a esta equipa, tal como infelizmente é comum no Sporting.
Será impossível conseguir criar este espirito de conquista no clube? O que é preciso para isso e quem o pode fazer?
Não deve ser fácil, senão alguém o teria feito.
Desta forma, com este tiki-taka-alentejano (devagar, devagarinho), espera-nos mais uma vez o 3º lugar e a eliminação das taças pelo porto, infelizmente.
Normalmente quem quer mais acaba por ganhar... triste é que costumem ser os outros, quando falamos de querer e de garra.
Quantos campeonatos perdemos já devido a estes empates displicentes e evitáveis, que equivalem hoje a verdadeiras derrotas na pontuação?
Enfim, temos que levantar a cabeça e olhar em frente, mesmo que o melão custe cada vez mais a levantar.
SL
Lanterna Verde