1 de dezembro de 2018

Theresienstadt

O jornal Correio da Manhã de hoje, mais uma vez, cavalgar nos pobres miseráveis que participaram no "ataque" a Alcochete, em maio passado. A RTP, o canal TV público português decidiu ontem transmitir excertos audio das declarações do ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, a um juiz. Relembro que os 30 e tal ditos cujos continuam, efetivamente, presos, numa prisão física, numa cela entre quatro paredes. Não roubaram dinheiro em benefício próprio, não assaltaram ninguém para lhes roubar algo, não agiram individualmente, não mataram ninguém - não, foram apanhados numa espiral de negativismo junto daquilo que o Sporting emanava desde há meses, anos, e deixaram-se enrolar, propositada ou inadvertidamente, não percebi ainda, numa ação que lhes assombrará a vida e, claro, a vida do clube. Sinto, deveras, pena daqueles pobres coitados, que sentiram tanto o clube ao ponto de deixar que a irracionalidade lhes toldasse o espírito. A paixão manifesta-se de diversas formas e, de um modo perverso, consigo ter compaixão com aqueles tipos que, após verem, mais uma vez, uma época desportiva terminar em desilusão, decidiram dar azo à sua frustração. São 16 ou 17 anos de frustrações, em que com o advento das redes sociais, triplicaram, quadruplicaram, metaquintatetraduplicaram, essa mesma frustração de ser o eterno perdedor, de ser o tipo que é constantemente alvo de piadas a meio da manhã, seja por parte do colega de trabalho, de carteira ou de cadeira de esplanada.

Aquilo que se passou em Alcochete prejudicou, sobretudo e talvez apenas, os Sportinguistas, o Sporting Clube de Portugal. Já bastava isso. A forma pornográfica e sanguinária como os media e a justiça portuguesa transformaram isto num crime de lesa-pátria deixa-me enojado.

Claro que aquilo que se passou em Alcochete foi muito mau, uma vergonha e que nunca deveria ter acontecido. Mas num mundo ideal, tais actos seriam apenas julgados por aqueles que sofreram com tais atos, os Sportinguistas. E, bem ou mal, já houve esse julgamento. Poucas semanas depois, foi decidida a destituição da antiga direção e procedeu-se à eleição de uma nova direção. Continuar a ver, dia após dia, escarrapachado nas tvs e jornais deste país, detalhes do tal dia fatídico, por parte de pessoas alheias ao Sporting, soa tão escabroso e humilhante como se os tribunais nazis julgassem o roubo de um pão em Theresienstadt. É isso que, acima de tudo, me revolta mais no meio disto tudo.

Já a frustração dos Sportinguistas, infelizmente, percebo-a. E aceito-a. Dezassete anos são muitos anos.


6 comentários:

Metralha disse...

É precisamente a humilhação diária a que os sportinguistas estão sujeitos que faz ter compaixão por aqueles que se encontram presos.

É uma vergonha ver tanta gente presa por uma mão cheia de nada, comparando com o que se passa neste país.

E a CS consegue toldar a racionalidade de todos. O terrorismo está a ser feito contra o Sporting.

Se duvidas houvesse, o caso Academia de Alcochete tirou muitas duvidas.

Para concluir, enojam-me os sportinguistas que cavalgaram a onda.

Fazendas disse...

+1

Captomente disse...

@Metralha, é absurdo a proporção que isto tomou. Evidente que foi grave mas quem os "ouve" falar, até parece que mataram alguém. E, como todos nós, Sportinguistas, sabemos bem, já houve quem tivesse matado alguém e nem metade do drama causou na sociedade e jornalismo português. Aliás, quem matou encontra-se, neste momento, livre, fora da prisão, a aguardar julgamento. Mas também é legítimo dizer que, com a forma de estar desta nova direção do Sporting, não podemos indignar-nos demasiado pois eles estão a ser, de alguma forma, coniventes com a situação, até porque quanto mais fundo a antiga direção for enterrada, mais hipóteses têm eles de sobreviver. No meio disto tudo, quem se fode é o Sporting (e os Sportinguistas, por arrasto).

Obrigado pelo comentário. SL

Metralha disse...

Captomonte,

Acho que esta direção está a fazer o que está certo, que é manter-se no silêncio.
Frederico Varandas estava presente, tudo o que possa dizer pode virar-se contra o Sporting.
Talvez Rogério Alves, mas é advogado e não convem falar num processo em curso por ser deontológicamente incorreto.

Mas a nossa comunicação devia fazer levantar outros problemas semelhantes com mediatismo diferente.

Por exemplo, onde andam os "terroristas" que partiram o hotel dos adeptos do Ajax ?

Captomente disse...

Sim, percebo e concordo, quando me referia a "nova direção", estava a pensar no Luís Paixão Martins, ao que parece, o dono da empresa responsável pela atual comunicação do Sporting, que não perde uma oportunidade em atacar a antiga direção (leia-se, BdC) e, ao fazê-lo, enfraquece, naturalmente, a posição do Sporting junto dos vários processos pendentes relacionados com Alcochete. Além de que contribui para a manutenção de um Sporting dividido entre "varandistas" e "brunistas". Para mim, é um absurdo estas tomadas de posição públicas. Não percebo.

Ao mesmo tempo, li ontem que o advogado do Sporting, parte interessada no processo "etoupeira", pediu ontem que o Benfica (SAD) vá a julgamento por corrupção. Menos mal.

Obrigado pelo comentário. SL

Metralha disse...

Captomonte,

O Luis Paixão Martins é um ser peçonhento. Não confio, não gosto e ainda bem que a comunicação institucional não tem voz...
O homem é ordinário, vingativo e não tem nada a ver com os valores do Sporting.

Neste aspecto, Frederico Varandas está muito mal acompanhado.