11 de maio de 2017

O Poder

Não tenho Sporting TV. Sou Vodafone e só em junho o canal estará na grelha. Há meses, desde o final da época passada que deixei de ver programas "desportivos". Não só porque não quero ver mas também porque, por qualquer razão fisiológica, o meu corpo e mente deixaram de conseguir aguentar mais de 1 minuto a ver o Dia Seguinte, Prolongamento ou, ainda menos, qualquer um daqueles da CMTV.

O único programa que faço questão de ver, nos últimos tempos e quase na íntegra, é um programa semanal do Porto Canal, onde participa o dir. com. do Porto, Francisco Marques, um ex-jornalista da RTP, cujo nome ainda não decorei, e o Bernardino Barros, jornalista ex-isento e actual "paineleiro" portista. Comecei a ver desde aquele programa, de há um mês e tal, em que o dir. com. do Porto denunciou a existência de uma, já infame, 'cartilha' lampiã. Li no Twitter sobre o programa, fiz rewind na tv box, vi-o e gostei.

Comecei a apreciar as constantes e cirúrgicas denúncias de personagens e actos do #EstadoLampiânico (no Porto, tratam-no por "O Polvo") no dito programa, pois é constatar na tv aquilo que muitos dos bloggers e "militantes" Sportinguistas já denunciavam ao tempo, nos seus blogs, Facebook ou em foruns. Imagino que o sentimento seja semelhante ao do escritor que vê a sua obra ser escolhida por Hollywood para ser reproduzida nos écrãs de cinema. Além disso, gosto da forma pautada, sintética e informativa como o fazem. Nada de alarmismos, de gritos, "números de circo", como é normal ver neste tipo de programas. Nada disso, é expor de forma serena o que é o #EstadoLâmpianico, desde as claques ilegais do Benfica, passando pelos árbitros que correm com a camisola da Casa do Benfica do Seixal, até à 'cartilha' escrita pelo escroque do Carlos Janela e que comentadores 'isentos' como Rui Pedro Braz e José Nunes recebem na sua caixa de email, tal e qual como recebem os "paineleiros" benfiquistas, como Pedro Guerra e André Ventura.


No último programa do Porto Canal, o dir. com. do Porto fez questão de repetir uma parte de uma mensagem da 'cartilha', escrita por Carlos Janela em finais de agosto, dias após um empate inesperado do Benfica em casa do Vitória de Setúbal. Trata-se até, à primeira audição, de uma passagem um pouco inócua, sem muito sumo, comparando com outras expressões e frases mais animalescas utilizadas por Carlos Janela nessa e noutras 'cartilhas' já tornadas públicas. Contudo, após as recentes notícias e confirmadas por um duplo-comunicado publicado em ambos os sites de Sporting e Porto, compreendo ainda melhor a importância que o dir. com. do Porto atribui aquela parte da 'cartilha' de agosto, em que Carlos Janela escreveu o seguinte:


"Não podemos reagir ao empate contra o Setúbal dando a impressão de que o Benfica está a perder poder. Isso nunca."



É isto, de facto, que dá o poder em Portugal: a percepção [do poder]. Ao contrário de alguns Sportinguistas e Portistas, eu não creio que o Benfica corrompa, financeira ou materialmente, os árbitros, dirigentes ou jogadores. Quer dizer, pelo menos, não da forma típica da corrupção, em que em benefício de alguém [Benfica], se prejudica propositadamente outrém [Sporting]. Acho que o Benfica montou um "sistema"moralmente corrupto, sim, mas que assenta, tecnicamente, numa legalidade. É legal comprar bancadas inteiras no estádio do Rio Ave e depois vender os bilhetes mais baratos aos seus próprios adeptos. É legal comprar jogadores e depois emprestá-los a outros clubes, cedendo-lhes até parte dos passes, tornando esses clubes mais fortes contra os outros e mais fraco contra o clube-mãe. É legal oferecer as suas instalações para que clubes lá treinem gratuitamente. É legal um clube transmitir os seus próprios jogos no canal do clube e marcar o horário para o que mais lhe convir. É legal, até porque não houve sanções, oferecer vouchers para refeições, a árbitros e delegados os jogos efetuados em casa. É legal a Fundação do clube patrocinar a formação de jovens árbitros. E o "poder" legalizado do Benfica é mais poderoso, passe o pleonasmo, do que o poder "ilegal" do Porto dos anos 90.

Se, além disto, o #EstadoLampiânico também obtiver poder através de formas ilegais, então aí, é o poder total, inexpugnável, hegemónico. No momento da decisão, seja do árbitro a apitar dentro do campo, do legislador a castigar fora dele ou do jornalista a escrever uma crítica, o "poderoso" vai ser sempre, sempre, protegido.


O Sporting assumiu a luta contra o poder do Benfica desde que BdC tomou posse como presidente do Sporting e fê-lo, constantemente, sozinho. Todos nós nos lembramos do "almoço do leitão", no auge da afirmação de BdC enquanto presidente do Sporting, quando este era o único que defendia a continuidade do então presidente da Liga, Mário Figueiredo.. O Porto, e já ouvi várias teorias sobre isto, tem assumido ultimamente sempre um papel defensivo e de resguarda nesta luta pelo "poder" do futebol português. Além de umas bocas pontuais, o Porto dos últimos anos não tem participado activamente nessa luta. Até há poucos meses...

Na minha ideia, o Porto percebeu que "isto" mudou. O pouco poder que lhes restava esvaiu-se-lhe por entre os dedos. Basta ver a forma como até os próprios árbitros da cidade do Porto já não têm daqueles 'erros' inacreditáveis a favor deles e, pior, cometem até erros contra a equipa do Porto.

O encontro público de ontem entre os diretores de comunicação do Sporting e Porto é, antes de mais nada, uma exibição pública de "poder". Cuidado, a partir de agora, nada vai ser como dantes. Já não vai ser apenas o louco BdC a vociferar contra os moinhos de vento do #EstadoLampiânico, nós, Porto, também vamos começar a gritar. Contra árbitros, jornalistas, dirigentes de clubes, Federação, Liga... é ler os pontos do comunicado. Tudo spot on. Concordo com todas.

Uma das maiores críticas que se fazia a BdC e à sua estratégia era, precisamente, de se ter isolado e combatido demasiadas batalhas sozinho. Que melhor adversário poderia ter senão o clube mais vitorioso (e poderoso) dos últimos 30 anos?

Agora, é verdade - tenho de o admitir - que me custa muito, demasiado, ver esta união de forças. Não a tinha percebido, tal como me parece que estou a entende-la hoje, quando ouvi falar sobre isto ontem à noite e fiquei pior que fodido. Eu li o livro do Marinho Neves "Golpe de Estádio", lembro-me ainda do Porto dos finais dos anos 90 e não esquecerei os roubos protagonizados por personagens do "Apito Dourado" ao Sporting. Mas ao ler as propostas do dito comunicado de hoje, esqueço-me. E, de certeza, vou me lembrar deles, dos roubos do "Apito Dourado", outra vez daqui a alguns dias. E depois esquecer-me-ei novamente quando sair o castigo do Samaris após o campeonato terminar. E vai ser assim durante os próximos tempos, com a consciência a balançar entre o "sistema" do passado e o "sistema" do presente. Odeio ambos com a mesma revolta mas o facto de ter sido o dir. comunicação do Porto a deslocar-se a Lisboa e não o contrário, dá-me alguma vontade de esquecer o passado. Até ver.





Do Porto a Lisboa são 319 km de distância


4 comentários:

Anónimo disse...

Os rebuçadinhos do SLB:

1 - Vouchers aos árbitros com oferta de almoço no museu da cerveja para toda a família - é de imaginar os homens do apito a salivarem antes dos jogos

2 - Cartilha para papagaios sabe-se lá com que moeda de troca, pelo menos o Janela levava 5mil€ por mês segundo Expresso

3 - Empréstimos e promessas de compra de jogadores a outros clubes, provavelmente com a condição de estender a passadeira até à baliza nos jogos contra o SLB

E é assim que o futebol tuga fica todo viciado - falta de ética total.

No meio disto tudo é muito difícil de acreditar somente em mérito nas conquistas de títulos. A única motivação em ver jogos do SLB é nas competições europeias ou contra o SCP e FCP, onde não há mãozinhas marotas.

Mas falta mais:

4 - Treinadores ex-jogadores do SLB

5 - Jogo da mala com oferta de prémios a equipas adversárias para que ganhem a rivais.

Não há corrupção? Não sei. Mas sei que há falta de ética.

T W disse...

Parabéns.
Extraordinário post, é assustadoramente fiel aquilo que eu penso sobre este acordo.
Já há algum tempo que me questionava sobre o que estava o Porto à espera para afrontar de frente o estado lampiânico. Só os portistas é que não tinham percebido que tinham perdido o poder que tiveram nos últimos 30 anos.

Diogo Marques disse...

Bom post capto.

Mas deixa-me discordar de uma coisa, o caso vouchers para mim é tão ou mais grave que as putas do porto, porque além de até ser mais caro, se formos a ver corrompe não apenas o árbitro, mas também todas as pessoas à volta dele. Se a mulher dele ganha o hábito de ir a um restaurante de luxo de borla é ela própria a fazer essa pressão ao árbitro.
Eles até nos dão razão, pois isso foi escondido por eles próprios até serem denunciados pelo Bruno na tvi

Os vouchers para mim é corrupção sem margem para dúvidas, por isso é que eles andavam em cima de bonecas de porcelana cada vez que falavam nisso

fullrise disse...

Muito bom post!