Mostrar mensagens com a etiqueta Coca-Cola. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Coca-Cola. Mostrar todas as mensagens

17 de abril de 2016

Nacional-Benfiquismo

"Stühler disse-me: 'Toda essa tua escrita não vai servir para nada. As coisas pequenas, já toda a gente sabe delas e as coisas grandes, tu não sabes de nenhuma." Respondi-lhe "Não são as grandes coisas que são importantes para mim mas o dia-a-dia sob tirania que fica esquecida. Mil picadas de mosquito são piores do que uma grande pancada na cabeça. Eu observo e anoto as picadas de mosquito."


Victor Klemperer, judeu alemão que passou os anos da Segunda Grande Guerra na Alemanha e onde escreveu "LTI: a linguagem do Terceiro Reich" e "Os diários de Victor Klemperer", ao minuto 53 do documentário "Language does not lie", baseado na sua obra e disponível no Youtube.









1 de abril. "Lema do Benfica candidato ao autocarro do Benfica". Sem mais comentários.






13 de abril. Benfica disputa segunda mão dos quartos de final da Liga dos Campeões contra os alemães do Bayern de Munique e o Record utiliza uma expressão associada à seleção de Portugal ("Deem-lhes um bigode"), que ficou célebre após o golo de Carlos Manuel à Alemanha em 1985. Um dia, haveremos de ver na véspera de um jogo importante do Benfica uma primeira-página de um jornal desportivo algo como "Força Magriços!"...




"Seleção promete “dar um bigode” à Alemanha" (16/05/2012)








14 de abril. Programa da tarde da RTP, canal público português, na véspera de um jogo dos quartos de final da Liga dos Campeões. Repito, quartos de final.









15 de abril. Repórter da TVI24, em direto num café de Lisboa. Repito, repórter da TVI24, "um órgão de informação geral independente e pluralista".









15 de abril. A Coca-Cola decidiu apresentar a sua campanha para o Euro 2016 "no estádio da Luz, e contou com a presença de antigos jogadores da Seleção Nacional (António Veloso, Fernando Chalana e Álvaro Magalhães)". Veloso, Chalana e Álvaro Magalhães. Estádio da Luz. Benfica. Seleção nacional. Portugal.









15 de abril. Episódio #347 da novela mais vista em Portugal, "A Única Mulher", da TVI. Sem comentários.









16 de abril. Programa "Voz do Cidadão". Outra vez, sem comentários. (por favor, ignorem o tom paternalista e zombador do apresentador)








16 de abril. "RTP RECUPERA 'BOCAS' DE OCTÁVIO MACHADO". Sem comentários.









16 de abril. A pièce de résistance, o título da notícia da Rádio Renascença, cujo capital é detido pelo "Patriarcado de Lisboa e Conferência Episcopal Portuguesa", à vitória do Sporting em Moreira de Cónegos.




Isto tudo em meros 15 dias, sem me preocupar em procurar "picadas de mosquitos" e sem saber o que se passou noutros orgãos de comunicação social explícita e pornográficamente lampiões, como CMTV ou A BOLA TV...


12 de outubro de 2013

A Coca-Cola do Sporting

Slavoj Žižek, filósofo dos nossos tempos e um cinéfilo convicto (tal como o nosso presidente), disse isto durante o o seu mais recente documentário:

“Vou dar um gole de Coca-Cola. Está a ficar quente, já não a é a ‘verdadeira’ Coca-Cola e esse é o problema. Estão a ver, esta passagem da dimensão do sublime para excremento. Quando está fria, devidamente servida, tem uma certa atracção, e subitamente, isto pode-se alterar para pura merda. É a dialéctica elementar das comodidades”.


Tem pinta de ser Sportinguista. Vou propô-lo para sócio!


Ok, a última parte já é mindfuck demais para mim, mas o que interessa salientar é isto: a mesma coisa (Coca-Cola), sob circunstâncias diferentes (quente ou fria), provoca reacções diversas (prazer ou repúdio). Quando li esta semana o ex-presidente do Sporting, Soares Franco, a lamentar-se que agora os sócios estão a aprovar coisas que no seu tempo reprovaram, lembrei-me imediatamente desta metáfora do maluco do Žižek. Nós andamos durante estes últimos anos a beber Coca-Cola quente em Alvalade. O Sporting de Soares Franco, Bettencourt e Godinho era puro excremento

Não deixámos de gostar de Coca-Cola, apenas não a saboreávamos como devia ser.

Eles não conseguem perceber que a Coca-Cola deles não tinha sabor, por mais craques ex-Liverpool ou ex-Barcelona que adornassem o rótulo da garrafa ou por mais tinta verde que aplicassem no miserável relvado do estádio. (Relvado esse que, por coincidência, sem holofotes especiais e engenheiros, está como nunca esteve nestes últimos 10 anos)

Não conseguem perceber que nos fartámos de beber Coca-Cola quente. Não percebem que nós já percebemos que eles quiseram ficar com as Coca-Colas frescas para eles e deixaram as quentes para nós.


Custa-lhes a aceitar que se voltou a beber Coca-Cola fresca em Alvalade. Enjoy.